PENSAMENTO ALEKSANDER DUGIN
NOTA DO BLOG
Sempre pensamos numa forma de trazer as ciências sociais para o meio da rua. Temos utilizado de todos os meios. Entre eles se encontra o teatro brechteano desenvolvido por Augusto Boal, Amir Haddad e tantos outros, e não só no Brasil mas em toda nuestra imensa latinoamérica.
Na construção ideológica, rumo ao horizonte da sociedade socialista - enquanto preâmbulo da sociedade comunista, é claro - todas as ferramentas são válidas, desde que contribuam para a libertação do oprimido diante do opressor.
Nesse sentido, a publicação deste blog BOLCHEVIQUES almeja servir de fonte inspiradora para todos que desejem entrar em contato com as ideias marxistas, a princípio. Só que para isso, é necessário sedimentar o chão ideológico para remover aquelas camadas turvas do nosso conhecimento advindas das teorias avós servidas no café-com-leite pelas vovós.
Isso significa que não basta conhecer o marxismo e suas vertentes, mas inclusive tudo aquilo que o circunda e/ou o cercea no caminho do estudante/discípulo. Esse é um dos nossos desejos.
Quanto ao conteúdo, não se deem por satisfeitos nem por vencidos. Na dúvida, busquem-nos para o debate. Por que sem ele, ninguém desenvolve teoria revolucionária.
Portanto, nenhuma publicação deste blog significa uma defesa do conteúdo pura e simplesmente, mas uma exposição à apreciação pública no sentido de que possamos refletir sobre o assunto. Logo, de Dugin a Marx, estamos dispostos a debater quaisquer assuntos e, se possível, contribuir para a formação da consciência de classe de todos nós.
BOLCHEVIQUES!
*
QUEM É ALEKSANDER DUGIN
Alexander Dugin – “Kemi Seba: esperança africana de um mundo multipolar”
13 de maio de 2019
Fonte:
Até alguns anos atrás, a África estava em um impasse. Após a primeira onda de descolonização na década de 1960, os novos regimes africanos tentaram todas as ideologias políticas da chamada era “moderna”. Esse processo levou ao surgimento de sociedades liberais, nacionalistas, comunistas ou socialistas em países pós-coloniais.
Infelizmente, a aplicação rigorosa desses paradigmas políticos exógenos arrastou dramaticamente as nações africanas para um inevitável declínio, com cada ideologia político-social dependente de um contexto matricial específico. Ao impor os princípios da modernidade ocidental na vida cotidiana das massas, embora tão distantes dessas correntes epistemológicas, as elites africanas destruíram e perverteram as profundas identidades dos povos, enquanto pensavam, paradoxalmente, em adensá-las. Eles se libertaram do colonialismo físico, mas não do colonialismo mental.
Do ponto de vista semântico, ontológico e espaço-temporal, a África, por sua completa alienação, constituiu, durante séculos de opressão, o mundo à parte ou os mundos separados, considerando que este continente é um universo plural e policêntrico. Mundo à parte, note-se, mas cujos recursos minerais ainda servem, infelizmente, para o resto dos poderes predatórios. Mas parece que, nos últimos anos, a roda está gradualmente se voltando para a direção correta. A revolução político-cultural da reapropriação de si parece surgir no horizonte, na África. E se o processo parece engajado, é que ele tem, entre outros, encontrado motor na pessoa do chamado Kemi Seba, jovem líder carismático, atípico, africano, nascido e criado na França, antes de voltar a viver na África e fazer da defesa deste continente a missão da sua vida.
Kemi Seba é um homem do seu tempo. Falando alto, ecoando a raiva das camadas proletarizadas do continente negro e sua diáspora. Seus discursos são a trilha sonora de pessoas que não podem mais ser anestesiadas, sua resistência é o espelho de uma jovem que foi tão esfaqueada que não sente mais os golpes que tentam infligir-lhe.
No espaço das ex-colônias francesas, desde a morte de Lumumba e Sankara, nós não vimos, na África, jovens africanos despertando o entusiasmo das massas e expressando o desejo de total soberania do povo como Seba faz em parte de sua luta pela autodeterminação das populações da África francófona.
E se ele consegue tornar o Dasein africano palpável na cena política internacional, é porque além de seu dom oratório para capturar a escuta de multidões, ou o seu destemor, ele tem, acima de tudo, intuitivamente apreendido as condições sine qua non do despertar de seu povo.
O líder pan-africanista entendeu que o estudo combinado da história de sua população, da geopolítica e da metafísica era o pré-requisito fundamental para uma verdadeira luta pela independência.
Ele conseguiu, pela força da estratégia e do conhecimento das ruas africanas, domesticar um conceito ainda desenhado e concebido por/para o Ocidente, que vem a ser a sociedade civil. Ao fundir sua circunferência (geralmente composta de ONGs alimentadas com os seios da Europa ou dos Estados Unidos) com a rua real, ela brutalmente descompartimentou um espaço metapolítico que não pertencia a povos enraizados, mas na verdade, para as elites apátridas globalizadas.
Ele entendeu o status ideológico das três principais teorias políticas modernas, que são o liberalismo, comunismo e nacionalismo.
Seguindo essa lógica, ele acabou, por meio do progresso intelectual, a chegar à Quarta Teoria Política, baseada na busca da tradição primordial em sua acepção africana e no domínio dos mecanismos conceituais da multipolaridade político-civilizacional.
O futuro da África e, mais amplamente, dos povos enraizados, é posto em evidência. Em nossa opinião, e considerando todos esses elementos, no início do século XXI, Kemi Seba não é apenas uma chance para a África. Ele é uma esperança para todas as forças da resistência multipolar.
*Este texto foi retirado do prefácio de Alexander Dugin para o livro “Free Africa or Death” (África Livre ou Morte) de Kemi Seba.
*
TEXTO RECOLHIDO NO TELEGRAM E ATRIBUIDO A DUGIN
Análise muito, muito interessante e precisa do filósofo russo Aleksandr Dugin sobre a guerra entre Irã e Israel, e além:
O que o Ocidente está tentando no Irã é um método. O que ele busca é um mapa.
Ele sabe que não pode vencer uma luta justa. É por isso que ele não luta de forma justa.
Ele se infiltra de dentro, ataca das sombras e usa seus agentes para exaurir nações até que sua soberania entre em colapso devido à exaustão total.
Isso não é novidade.
O Ocidente é um império que exerce seu domínio por meio de infiltração, não de invasão.
Assassinato em vez de diálogo.
A fabricação do colapso pela erosão interna da vítima.
E os países do Sul Global continuam cometendo o mesmo erro: eles acreditam que o que está acontecendo é uma crise administrável, não um sistema que deve ser destruído.
Não há conflito aqui. Há predador e presa.
E se a China, a Rússia e o mundo emergente não compreenderem completamente essa equação, eles serão os próximos na mesa do açougueiro.
Não serão assim por serem fracos, mas precisamente porque estão se rebelando. Essa rebelião é o crime deles.
A dor do Irã é apenas o capítulo preliminar. Os outros capítulos já foram escritos.
A Ucrânia foi o teste para colocar a Rússia à prova.
Taiwan é o pavio lento que incendeia a China.
E a África está queimando — base após base, golpe após golpe, bandeira falsa após bandeira falsa.
O Ocidente trava uma guerra total e contínua, mesmo quando lhe chama “paz”.
E respondemos com hesitação, mesmo quando chamamos nossa resposta de “resistência”.
A descolonização não é possível sem poder.
O mundo não será equilibrado por conferências, declarações e coletivas de imprensa.
Ela estará equilibrada quando o império ocidental parar de se sentir seguro consigo mesmo.
Quando suas fronteiras sentem o que as nossas sentem.
Quando suas cidades não estiverem mais a salvo de consequências graves.
Isso não significa nos tornarmos agressores.
Significa quebrar a ilusão de que a paz pode ser implorada àqueles que se alimentam da guerra.
Taiwan deve ser recuperada.
Kyiv e Odessa devem ser protegidas.
A Palestina deve ser libertada.
É isso que deve acontecer, não por meio de conquistas, mas por meio do equilíbrio.
Para fechar o ciclo. Pela verdade.
Os BRICS devem deixar de ser um fórum para declarações educadas e se tornar o que deveriam ser desde o início:
Um eixo de correção.
Um escudo do sul.
O martelo do futuro.
A espinha dorsal da resistência global.
Se o Ocidente travar uma guerra híbrida, a resposta deve ser uma insurreição híbrida:
Política, econômica, cultural e militar.
Não em apenas uma frente. Em todas as frentes.
Se o Irã cair, estaremos à beira da guerra.
Mas se o Irã resistir, a bruxaria se voltará contra o feiticeiro.
E é justamente por isso que o Ocidente está aterrorizado.
É por isso que eles mentem, sabotam e intensificam a discussão.
Porque pela primeira vez em gerações, eles sentem que o mundo pode estar escapando por entre seus dedos.
Deixe-os escapar.
E se o que for preciso para quebrar a espinha dorsal do império da arrogância branca for uma guerra mundial, que assim seja.
Porque o Ocidente é um império construído com base em fôlego roubado, tratados traídos e valas comuns.
E é por isso que ele não merece o luxo de morrer em paz enquanto dorme.
O campo de batalha, desta vez, não se limitará ao sul global.
Alguns Apontamentos sobre a Quarta Teoria Política de Dugin:
A Reação Fascista sob Novo Disfarce
Por Aurelio Fernandes*
A
Quarta Teoria Política (QTP) de Aleksandr Dugin, com sua rejeição tanto do
liberalismo quanto do socialismo e do fascismo, propõe um caminho alternativo
baseado na tradição, na multipolaridade e na identidade civilizacional. Do
ponto de vista marxista-leninista, a QTP se revela, em sua essência, uma
ideologia reacionária que, apesar de sua retórica antiliberal, serve para
ocultar as contradições de classe e legitimar novas formas de opressão.
A Falácia da "Tradição" e a Negação
da Luta de Classes
Dugin
eleva a "tradição" a um princípio organizador central, buscando uma
suposta essência civilizacional que transcende a história e as relações sociais materiais. Para o marxismo-leninismo,
essa abordagem é idealista e metafísica. A tradição
não é um dado imutável, mas sim um produto das relações sociais e econômicas em
constante transformação. A QTP ignora a luta
de classes como motor fundamental da história, dissolvendo as contradições
entre exploradores e explorados em uma busca abstrata por uma identidade coletiva.
Ao
focar na tradição, Dugin desvia a atenção da exploração capitalista e das
contradições inerentes ao sistema de produção. Em vez de questionar a propriedade privada dos meios de produção e a apropriação do mais-valor, a QTP propõe um retorno a estruturas sociais
que, na prática, tendem a solidificar as hierarquias existentes e a reprimir
qualquer movimento revolucionário que busque a emancipação das classes
oprimidas.
Multipolaridade: Uma Cortina de Fumaça para o Imperialismo
A
defesa da multipolaridade por Dugin, embora aparentemente antagônica à
hegemonia unipolar ocidental, não representa uma alternativa progressista para
os marxista-leninistas. A QTP não questiona a
natureza de classe dos estados ou as relações imperialistas entre as potências.
Pelo contrário, ela pode, em última instância, legitimar a formação de blocos
imperialistas rivais, onde a exploração e a dominação persistem, apenas sob
diferentes disfarces.
Para
o marxismo-leninismo, a verdadeira superação da unipolaridade não reside na
criação de múltiplos polos de poder imperialista, mas sim na construção de um
mundo socialista, onde as relações internacionais sejam baseadas na
solidariedade entre os povos e na superação de todas as formas de exploração e
opressão, tanto dentro das nações quanto entre elas. A multipolaridade de Dugin pode, paradoxalmente, levar a uma
intensificação das rivalidades geopolíticas e a uma maior instabilidade global, em vez de uma verdadeira paz e
cooperação.
A Questão
do "Dasein" e o Irracionalismo Antiproletário
A ênfase de Dugin no conceito de
"Dasein" (ser-aí) de Heidegger como
o "ator" da Quarta Teoria Política, e a primazia dada a
elementos metafísicos e existenciais,
revela um irracionalismo inerente. O marxismo-leninismo, pautado pelo materialismo dialético e histórico, busca
compreender o mundo a partir de suas bases materiais e suas leis de
desenvolvimento. A QTP, ao invés disso, recorre a abstrações que obscurecem a
análise concreta das relações de classe e das
contradições econômicas.
Essa
inclinação ao irracionalismo serve para minar a capacidade revolucionária do
proletariado. Ao invés de uma compreensão científica das leis que regem a
sociedade e a identificação do proletariado como a classe revolucionária capaz
de transformar o mundo, a QTP oferece uma visão nebulosa onde as identidades
são construídas em torno de elementos culturais e espirituais, desviando a
atenção da luta pela libertação econômica e social.
Similitudes com o Fascismo
Apesar
de Aleksandr Dugin rejeitar explicitamente o fascismo como uma das ideologias
“falidas” do século XX, a Quarta Teoria Política (QTP) retoma diversos
elementos centrais dessa corrente de forma reconfigurada. Para o marxismo-
leninismo, essa aproximação não é meramente conceitual, mas material e
política: a QTP cumpre uma função histórica semelhante à do fascismo, atuando
como resposta reacionária a atual crise do capitalismo e buscando suprimir a
luta de classes sob o manto da unidade mística e da identidade civilizacional.
1.
Negação da luta de classes e unidade orgânica
Tanto o fascismo quanto a QTP substituem a centralidade da luta de
classes por uma noção idealizada de “povo”, “nação” ou “civilização”. Apagam as
contradições entre exploradores e explorados, propondo em seu lugar uma unidade
abstrata baseada em mitos culturais e espirituais. A QTP, ao elevar o “Dasein”
coletivo como sujeito histórico, dissolve a agência revolucionária do proletariado
numa névoa ontológica, tal como o fascismo dissolvia o operariado na mística da
pátria e da raça.
2.
Culto da tradição e rejeição
da modernidade
Ambas as ideologias fazem do “retorno à tradição” uma resposta à crise
moderna, rejeitando os valores do Iluminismo, da racionalidade e do progresso
científico — pilares fundamentais do pensamento marxista. Essa postura anti-iluminista e conservadora
serve para reforçar estruturas sociais hierárquicas, autoritárias e
patriarcais, legitimando a repressão das forças populares organizadas.
3.
Autoritarismo e antidemocracia sob nova roupagem
Assim
como o fascismo exalta o chefe carismático e a autoridade centralizada, a QTP
justifica regimes autoritários em nome da preservação da identidade
civilizacional. Sua crítica à democracia liberal não tem como objetivo a
construção de formas superiores de democracia popular ou socialista, mas sim a
imposição de ordens verticais em que o povo é objeto de tutela espiritual e não
sujeito ativo da história.
4.
Irracionalismo filosófico
e despolitização do proletariado
A apropriação de Heidegger por Dugin revela uma tendência clara ao
irracionalismo. Em lugar de uma análise científica da realidade social, a QTP
promove uma ontologia mística do “ser civilizacional”, o que impede qualquer
ação política emancipadora com base em interesses de classe. Esse
irracionalismo também foi típico do fascismo, que buscava mobilizar as massas
não por consciência, mas por paixão, fé cega e culto ao destino.
5.
Multipolaridade como reorganização imperialista
A
defesa de uma ordem multipolar não representa, para Dugin, a superação do
imperialismo, mas sua redistribuição em blocos autoritários rivais. Assim como
o fascismo histórico se apresentou como alternativa ao liberalismo ocidental,
apenas para instaurar novas formas de dominação imperialista, a QTP propõe uma
reação geopolítica que mantém intactas as estruturas de exploração — apenas sob
novas bandeiras.
Conclusão: Uma Ideologia reacionária
Em suma, a Quarta
Teoria Política de Aleksandr Dugin, sob uma roupagem de "alternativa"
aos grandes paradigmas ideológicos do século XX, apresenta-se, da perspectiva
marxista-leninista, como uma ideologia reacionária. Ela desvia a atenção das
verdadeiras contradições de classe, legitima novas formas de dominação (seja sob
a forma de novos blocos imperialistas ou de regimes autoritários em nome da
"tradição") e nega a capacidade revolucionária do proletariado.
Para
os marxistas-leninistas, a verdadeira resposta aos problemas do mundo
contemporâneo não reside no retorno a um passado idealizado ou na formação de
novos blocos de poder, mas sim na luta intransigente pela superação do
capitalismo, pela emancipação das classes trabalhadoras e pela construção de
uma sociedade socialista sem exploração, opressão ou antagonismos de classe. A
QTP, ao contrário, serve como um reforço ideológico para o status quo
reacionário, mascarando a persistência da exploração sob novas narrativas e
identidades.
Assim,
a Quarta Teoria Política, sob uma retórica antiliberal e
"alternativa", atualiza os principais traços do fascismo: idealismo
irracional, culto à tradição, supressão da luta de classes, autoritarismo
disfarçado de identidade civilizacional e legitimação de novos imperialismos.
Para os marxista-leninistas, ela representa não apenas um erro teórico, mas um
grave perigo político: um projeto ideológico pensado para neutralizar qualquer
possibilidade revolucionária real e reconfigurar a dominação de classe sob
novos símbolos.
Mestre em Ensino de História, professor da rede estadual do Rio de Janeiro e educador popular. Membro do Centro Ruy Mauro Marini e militante do PCBR.

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