quinta-feira, 10 de julho de 2025

PENSAMENTO BOLCHEVIQUE * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO BOLCHEVIQUE
 A ATUALIDADE INSUPERÁVEL DE LÊNIN


EM DEFESA DO LEGADO REVOLUCIONÁRIO DE NOSSO MESTRE BOLCHEVIQUE

-Nossa comemoração a mais este aniversário do Camarada que dedicou sua vida à libertação dos oprimidos, quando completa 155 anos do seu nascimento-

“Caminhamos num pequeno grupo unido por uma estrada escarpa e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. Estamos cercados de inimigos por todos os lados, e, quase sempre, é preciso caminhar sob fogo cruzado. Estamos unidos por uma decisão tomada livremente, justamente para lutar contra o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes nos acusam, desde o início, de termos formado um grupo à parte, preferido o caminho da luta ao da conciliação.” (Lenin).

No dia 22 de abril, comemoramos o aniversário de nascimento de Lênin, e neste 2020 se completará os 150 anos de nascimento do grande dirigente revolucionário e chefe do proletariado mundial, Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido pelo pseudônimo Lenin. Lenin foi o principal dirigente da Revolução Russa de 1917 ao lado de Leon Trotsky, e maior líder político desde o século passado. Seu legado, método e obra revolucionária, sobretudo o bolchevismo, não só permanecem atualíssimos, mas é mesmo imprescindível como arma política dos trabalhadores de todo o mundo em sua luta contra a burguesia e pelo socialismo. Exatamente por tal legado de luta contra o capital, nenhum outro líder político foi tão odiado e caluniado em toda a história como o foi e é Vladimir Lenin, expressão do profundo ódio de classe que todos os exploradores e opressores do mundo, bem como seus serviçais e lacaios, nutrem (mas também temem) pelo grande revolucionário.

Lenin foi sem sombra de dúvidas, a personificação da fusão entre teoria e prática. Na atual etapa de decadência burguesa e decomposição do capitalismo senil, caracterizado pelo auge da barbárie social, econômica, etc., só mesmo o partido revolucionário e a organização internacional dos trabalhadores como teorizado e posto em prática por Lenin podem dirigir às massas em direção a derrubada mundial da sociedade burguesa tardia.

Além de lançar as bases do partido revolucionário do proletariado como sua principal arma contra a burguesia, as contribuições de Lenin acerca do imperialismo, do combate ao oportunismo e da elevação da filosofia marxista revolucionária, são verdadeiros arsenais da política proletária e devem ser conhecidos das novas gerações de trabalhadores conscientes, que tem a missão histórica de levantar bem alto a bandeira do autentico marxismo-leninismo, em direção a destruição do modo de produção capitalista e eliminar a exploração do homem pelo homem, somente possível pela sociedade socialista.

Lenin e sua juventude

Nascido no dia 22 de abril de 1870 em Simbirsk, nas margens do rio Volga na Rússia Czarista, Vladimir Ilich Ulianov teve origem familiar na pequena burguesia russa, seu pai, Ilya Nicolayevich Ulianov, foi funcionário no setor educacional Czarista e sua mãe, Maria Alexandrovna Blank, era filha de um médico na província de Kazan. Lenin viveu em sua infância e adolescência tempos de grande agitação política, neste período a Rússia era uma sociedade semifeudal e dirigida politicamente de forma despótica pela aristocracia Czarista e por uma classe dirigente arcaica, incapaz de levar adiante uma profunda transformação nas relações econômicas e sociais no país, seguindo os passos da grande burguesia europeia ocidental, herdeiras direta da grande revolução francesa de 1789. Durante a juventude de Lenin, praticamente toda a intelligentsia progressista da Rússia e os revolucionários, eram atraídos para a luta política pelo grupo “Vontade Popular”, que tinham como método de ação os atentados espetaculares, que segundo seus militantes, eram o único meio que poderia abalar o poder do Czar e construir uma outra sociedade. O irmão mais velho de Lenin, Alexandre Ulianov, integrante do “Vontade Popular”, foi enforcado em 1886 após tentativa de assassinar o Czar Alexander III.

Por este período Lenin frequentava a faculdade de direito em Kazan, quando um ano após o assassinato de Alexandre é preso e expulso da universidade por suas atividades. Nessa época, mesmo reconhecendo o valor e a coragem dos revolucionários que davam a vida enfrentando a exploração e opressão Czarista e da burguesia atrasada russa, Lenin já percebia a ineficácia das ações voluntaristas de “Vontade Popular” e do espontaneísmo em voga. Com grande perspicácia e vontade política, Lenin já desenvolvia a preocupação em unificar todos os grupos clandestinos de tendência marxista, que atuavam sobretudo em São Petersburgo, cidade em que ele desembarcara mudando-se de Samara, e que segundo Trotsky: “Foi portanto, entre a execução de seu irmão e sua mudança para São Petersburgo, nesse período de seis anos de trabalho árduo, que o Lenin futuro foi formado”.

Lenin estabelece contatos com grupos marxistas ilegais e estuda “O Capital” de Marx, seguido pelo “Anti-Duhring” de Engels, marcando em definitivo sua personalidade política revolucionária e seu avanço como teórico marxista. Logo se aproxima do grupo “Emancipação do Trabalho”, dirigido por George Plekhanov, o grande fundador do marxismo na Rússia, fatores decisivos na vida de Lenin, que em breve tempo caminharia na direção da fundação do partido revolucionário do proletariado. Através dos investimentos do capital estrangeiro, formou-se na Rússia uma pequena, mas poderosa classe trabalhadora, que deu origem aos círculos operários dos quais Lenin se aproximara. Sua aproximação dos operários foi decisiva para que ele compreendesse o papel fundamental que o proletariado poderia desempenhar no cenário político do país. Lenin nessa época percebe que, o desenvolvimento do capitalismo na Rússia arcaica, produzindo a instalação de grandes empresas e gerando um proletariado moderno, concentrado e disciplinado, estabelecia as bases materiais e condições objetivas para que a classe tivesse seus interesses próprios e independência política diante da burguesia e contra o Czar.

Em sua obra de 1894, “Quem são os amigos do povo e como lutam contra os socialdemocratas”, polemizando com os “populistas”, que não compreendiam as peculiaridades pelas quais se desenvolviam as lutas de classes e o caráter da revolução no país, Lenin já destacava o papel dirigente do proletariado russo e sua independência de classe, nas lutas democráticas que se recrudesciam. Neste importante texto, expõe os fundamentos do socialismo cientifico de Marx e Engels, como a principal ferramenta de luta dos trabalhadores em sua empreitada revolucionária histórica contra o capital.

No ano de 1895, pertencendo ao grupo “União e Luta pela Emancipação da Classe Operária”, Lenin se encontra com Plekhanov na Suíça e conversa com Paul Lafargue, importante revolucionário comunista e genro de Karl Marx, em Paris, sobretudo para aprofundar seus estudos da Comuna de Paris. Poucos dias após seu retorno foi preso e em seguida exilado com outros camaradas. Em 1898 ocorre o primeiro Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), do qual surgiu o partido Bolchevique, atacado pelas forças da repressão e seus participantes presos. Neste período em seu exílio na Sibéria, escreve um clássico da economia marxista, seu lendário livro “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, na qual analisa os efeitos da penetração do capitalismo na agricultura, as diversas etapas da evolução do modo de produção burguês na indústria, o crescimento da proletarização maciça e a formação da classe trabalhadora.

Lenin foi sem dúvida a principal figura do século XX, sua personalidade e seu protagonismo como dirigente revolucionário do proletariado mundial foram incomparavelmente decisivos para a luta da classe trabalhadora em todo o globo.

Bolchevismo: o partido de novo tipo

No começo dos anos 1900, já no fim de seu exílio, Lenin passa a dedicar grande esforço para a construção de um jornal que abarcasse toda a Rússia. O primeiro Congresso do POSDR já havia decidido publicar, por influência de Lenin, um jornal clandestino. Neste período surge o jornal “Iskra” (“A Faísca”), contrabandeado clandestinamente para dentro da Rússia e que se fundamentava programaticamente no marxismo e o colocava como força ideológica revolucionária dominante, contra as correntes sectárias e/ou oportunistas dentro do movimento operário, obra que Lenin valorizou até o fim de sua vida.

O “Iskra” prepara o 2º Congresso do Partido, que ocorreu em 1903, este que foi o Congresso fundador. Lenin centrou forças e escreveu uma das principais obras do marxismo revolucionário que mantém até hoje impressionante atualidade em seu método: “Que Fazer?”. Nessa obra magistral, o grande revolucionário lança as bases teóricas da “organização como sujeito político”, de forma que nenhum outro o fez antes. É neste genial documento que Lenin defende a criação de um partido de revolucionários profissionais, organizado, centralizado e disciplinado, como um verdadeiro “Estado Maior” do proletariado revolucionário. Nas palavras de Marcel Liebman “a própria ideia de organização ocupa no leninismo um lugar essencial: organização do instrumento revolucionário, organização da própria revolução, organização da sociedade surgida com a revolução”. As preocupações centrais de Lenin que o levaram a escrever “Que Fazer?”, eram produtos da desorganização pequeno-burguesa reinante que imperava entre a vanguarda revolucionária na Rússia Czarista.

Uma das características dessa vanguarda era o culto prestado ao “espontaneismo das massas”, desprezando os efeitos que a divisão do trabalho burguês impõe sobre os trabalhadores escravizados pelo capital. Combatendo no melhor espírito do socialismo cientifico dos mestres Marx e Engels, Lenin ensina nesta gigante obra: “Dissemos anteriormente que, na época, os operários não podiam ter consciência socialdemocrata. Esta só poderia ser introduzida de fora. A história de todos os países demonstra que, contando apenas com as próprias forças, a classe operária só está em condições de atingir uma consciência trade-unionista, isto é, a convicção de que é preciso agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, reivindicar ao governo a promulgação desta ou daquela lei necessária aos operários etc. A doutrina socialista, ao contrário, nasceu das teorias filosóficas, históricas e econômicas elaboradas pelos representantes instruídos das classes proprietárias, pelos intelectuais. Por sua origem e posição social, também os fundadores do socialismo cientifico contemporâneo, Marx e Engels, pertenciam à intelectualidade burguesa.” (Lenin, “Que Fazer?”). Lenin discorre em outras importantes passagens do livro sobre a influência nociva que o espontaneismo traz ao movimento operário, dando-lhe um radical combate, mostrando aos trabalhadores conscientes e sua vanguarda a necessidade da organização, da centralização, disciplina e cuidado com a teoria, unindo-a à práxis revolucionária no combate de morte contra a sociedade burguesa.

-1917-

Em 1903 ocorre o 2º Congresso do Partido, no qual os camaradas do Iskra tornam-se maioria. Após intensa polêmica acerca de questões organizativas, acontece o histórico racha entre Lenin e Martov, este último editor do Iskra e importante dirigente socialdemocrata da época. As principais divergências entre ambos os dirigentes, se dá principalmente quanto às problemáticas que envolviam a disciplina militante e as condições para ser tornar membro do partido. Enquanto Martov mantinha posição liberal pequeno burguesa (que refletia sua condição de classe) contrária a um partido composto por quadros disciplinados organicamente, Lenin afirmava que o revolucionário membro da organização deveria ter envolvimento completo, militante e disciplinado, contribuindo com o seu todo integral ao partido. Surge assim os Bolcheviques (Maioria em russo) e Mencheviques (Minoria). Expressando seu conteúdo de classe pequeno burguês, os Mencheviques afirmavam ser a burguesia nacional russa um elemento histórico progressista, destinado a levar adiante o desenvolvimento do capitalismo e da democracia burguesa clássica no país, como assim o fez em outra época, a burguesia revolucionária da Europa ocidental. Lenin e os Bolcheviques (Trotsky posteriormente desenvolveria cientificamente essa questão com a “Teoria da Revolução Permanente”), por sua vez, viam no proletariado russo a única classe que, apoiada no campesinato, poderia dirigir a revolução no país e resolver as tarefas democráticas pendentes em direção ao socialismo.

Enquanto os Mencheviques representavam a ala pequeno-burguesa e reformista da esquerda russa, os Bolcheviques tornaram-se os dirigentes máximos do proletariado e das massas exploradas e oprimidas, encabeçando e dirigindo com contribuição decisiva de Lenin como líder inconteste, essas massas à tomada do poder contra a burguesia, estabelecendo a ditadura do proletariado (democracia dos explorados e oprimidos contra os exploradores) e criando as bases do primeiro Estado operário da história.

1905: A veracidade do bolchevismo

A Rússia foi abalada econômica e socialmente pela grande crise que a atingiu entre os anos de 1900 e 1903, jogando na rua da amargura e do desemprego, mais de duzentos mil trabalhadores. Os campos passavam também por imensa pobreza e a opressão no país chegavam a limites insuportáveis. Em 1904 explodem em diversas regiões grandes greves em cidades industriais. Na cidade de Baku, os bolcheviques dirigem importante greve que teve imenso destaque. O Czarismo, enquanto dispensava algumas migalhas e pequenas concessões aos liberais e reformistas, apertava o torniquete contra os bolcheviques perseguindo-os implacavelmente.

Em 1905, com o recrudescimento qualitativo das contradições imensas no país, explode a revolução. A insurreição dos marinheiros no famoso encouraçado Potenkin, e o surgimento dos Soviets, são as expressões do radicalismo das massas e da situação explosiva e revolucionária pelo qual passava o país, fruto da profunda crise que atingia o regime burguês de conjunto. Os Mencheviques continuavam mantendo suas ilusões num suposto caráter progressista da burguesia russa, que para eles desenvolveria o capitalismo nacional e a democracia, assim, caracterizava essa revolução como democrático burguesa, dirigida pelas classes exploradoras enquanto os trabalhadores deveriam fazer oposição no parlamento sem assustar a burguesia com o “fantasma” do socialismo.

Com a traição e repressão burguesa em 1905, as ilusões mencheviques se evaporam e fica evidente a veracidade do programa revolucionário bolchevique, que via no proletariado o sujeito histórico dirigente do processo, que deveria transformar dialeticamente a revolução democrática em socialista eliminando a sociedade de classes, programa atual até hoje nos países de capitalismo dependentes e semicoloniais. Trotsky neste período era o mais importante dirigente dos Soviets em todo o país e buscava a unidade entre as duas principais alas do movimento operário russo, enquanto mantinha independência das duas correntes. Isso fez com que durante este período, Lenin e Trotsky mantivessem ácidas polêmicas no interior do movimento revolucionário. No entanto, nos anos que se seguiram, Trotsky se tornou o principal discípulo e herdeiro político e teórico de Lenin, que em seus últimos escritos foi radicalmente contrário em utilizar suas antigas divergências contra Trotsky.

Após a derrota da revolução de 1905, um duro período de reação se abateu contra os trabalhadores russos e sua vanguarda, se expressando no abatimento, desmobilização e desorientação de parte das massas. Além disso, houve um grande assenso de todo tipo de falsificações e apostasias filosóficas e ideológicas. Neste contexto Lenin pública “Materialismo e Empiriocriticismo” (1909), um clássico da filosofia materialista, combatendo os filósofos burgueses Mach e Avenarius, o padre Berkeley, além de social democratas como Bogdanov, partidários de um idealismo subjetivo reacionário e do agnosticismo, que negavam, como faziam os idealistas, a própria matéria, abrindo concessões ao irracionalismo teológico, arma ideológica poderosa da burguesia em sua luta contra o proletariado; ou defendiam como os agnósticos epígonos medíocres de Kant, a impossibilidade de conhecer a realidade objetiva, que nada mais era, segundo Lenin, uma tentativa de ressurgimento das concepções ultra subjetivistas do padre Berkeley e Hume.

Lenin expõe celebremente a concepção materialista da psique e da consciência como produto superior da matéria, ou seja, como função do cérebro humano, destacando que são em essência, reflexo direto e indireto do mundo exterior. De acordo com Lenin, “A matéria é uma categoria filosófica para designar a realidade objetiva, que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida pelas nossas sensações, existindo independente delas” (1909). Embora contendo certas limitações, que Lenin corrige em seus cadernos sobre Hegel, a teoria do reflexo de Lenin exposta resumidamente em sua citação acima, expressa uma defesa sem par da concepção materialista do homem, do desenvolvimento histórico dos seus sentidos e do seu próprio ser social. Em seu outro monumental texto filosófico, “Cadernos sobre a Dialética de Hegel”, escrito no contexto da Primeira Guerra, Lenin deixa patente seu legado de grande filósofo do marxismo, contribuindo grandemente, assim como Marx e Engels, para solidificar a base materialista da dialética tomada de Hegel, outro gigante do pensamento humano: “Geralmente, procuro ler Hegel de modo materialista: Hegel é o materialismo de cabeça para baixo [segundo Engels],ou seja, eu elimino em grande parte o bom deus, o absoluto, a Ideia pura, etc.”(“Cadernos sobre a Dialética de Hegel”).

Lenin demonstra de forma certeira que filosofia e política andam juntas. Que não pode haver política correta sem estar iluminada por uma filosofia e teoria que correspondam às necessidades das condições objetivas e subjetivas, ou seja, revolucionárias e transformadoras da realidade social, bem distante do pedantismo e irracionalismo característico dos amorfos ambientes acadêmicos burgueses. Dessa forma, Lenin desbarata por completo a filosofia idealista burguesa contemplativa e seu conteúdo reacionário. Para Lenin a filosofia se insere entre outras coisas (longe do simplismo) como “luta de classes na teoria” e arma teórica, espiritual do proletariado.

Em 1912 surge um novo despertar dos trabalhadores, período que vai até 1914 com a explosão da Primeira Guerra Mundial, acontecimento que marcou a carnificina e barbárie que a burguesia recorre, sempre que necessitar e quando os imperativos econômicos alienantes de acumulação, corrida pelo lucro e saque em grande escala exigirem. A Primeira Grande Guerra, seus reflexos na luta de classes, particularmente no seio do movimento comunista e socialista, sepulta também toda a antiga direção reformista da II Internacional e da social democracia alemã, apoiadores da matança burguesa, duramente combatidos pelos bolcheviques e Lenin em especial, por Trotsky e Rosa Luxemburgo, que defendiam até as últimas consequências o internacionalismo proletário, a guerra revolucionária contra a burguesia em todos os países e mesmo a necessidade de uma nova Internacional diante de uma época sombria para o movimento comunista em todo o mundo.

“O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”: o avanço da economia política do marxismo

Em 1916 Lenin publica uma de suas principais contribuições ao movimento dos trabalhadores de todos os países. “O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo” de Lenin significou de fato um avanço da economia política marxista, pois trata da nova fase pelo qual adentrava o capitalismo mundial em fins do século XIX, do qual Marx não poderia ter visto, embora tenha percebido e apontado em seu livro terceiro de “O Capital” as tendências dialéticas da sociedade burguesa marcada pela ascensão dos monopólios e da fusão do capital bancário hiperconcentrado com o capital industrial. Segundo Lenin, a “Concentração da produção; monopólios que resultam da mesma; fusão ou junção dos bancos com a indústria: tal é a história do aparecimento do capital financeiro e daquilo que este conceito encerra[...]O Monopólio, uma vez que foi constituído e controla milhões e milhões, penetra de maneira absolutamente inevitável em todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de qualquer outra particularidade.” (“O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”). Olhando esses escritos, parece mesmo terem sido elaborados ontem, pois é em grande medida exatamente o que tem ocorrido com a economia capitalista contemporânea.

Embora John Hobson (um liberal burguês, que não podia sacar de sua análise conclusões revolucionárias como Lenin o fez), Hilferding, Bukárin e mesmo Rosa Luxemburgo tenha precedido “O Imperialismo” de Lenin, o mestre bolchevique mantém sua originalidade impar e uma finalidade política e revolucionária precisa, característica de todas as suas obras. Se o imperialismo, como diz Lenin, se manifestava “em todos os aspectos da vida social”, inclusive pela guerra, “A isto deve-se acrescentar que, não só nos países recentemente descobertos mas também nos velhos, o imperialismo conduz às anexações, à intensificação da opressão nacional, e, por conseguinte, intensifica também a resistência”. Lenin combate acidamente o oportunismo e a conciliação de classes, levado adiante pelos chefes degenerados da II Internacional, sobretudo Kautsky.

Segundo Lenin, “A particularidade fundamental do capitalismo moderno [imperialismo] consiste na dominação exercida pelas associações monopolistas dos grandes patrões. Estes monopólios adquire a máxima solidez quando reúnem nas suas mãos todas as fontes de matérias-primas, e já vimos com que ardor as associações internacionais de capitalistas se esforçam por retirar do adversário toda a possibilidade de concorrência, por adquirir, por exemplo, as terras que contém minério de ferro, o jazigos de petróleo, etc. A posse de colônias é a única coisa que garante de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as contingências da luta com o adversário, mesmo quando este procura defender-se mediante uma lei que implante o monopólio do Estado. Quanto mais desenvolvido está o capitalismo, quanto mais sensível se torna a insuficiência de matérias primas, quanto mais dura é a concorrência e procura de fontes de matérias primas em todo o mundo, tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de colônias.[...]A época do capitalismo contemporâneo mostra-nos que se estão estabelecendo determinadas relações entre os grupos capitalistas com base na partilha econômica do mundo, e que, ao mesmo tempo, em ligação com isto, se estão estabelecendo entre os grupos políticos, entre os Estados, determinadas relações com base na partilha territorial do mundo, na luta pelas colônias, na luta pelo território econômico.”(idem). O método de Lenin, sua capacidade de manejar as armas da dialética são impressionantes, está descrito acima absolutamente tudo o que vemos acontecer em nosso período histórico, marcado pela agressividade dos grupos imperialistas atuais, sobretudo seu chefe, o imperialismo ianque e sua política neocolonizadora atual contra os povos; um simples olhar sobre o que ocorre com a Líbia, Síria e Venezuela são exemplares da veracidade e atualidade dessa imprescindível obra.

Mas, se o imperialismo “[...]é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade.”, também podemos “qualificá-lo de capitalismo de transição ou, mais propriamente, de capitalismo agonizante.” (idem). Assim, sendo a época imperialista de “guerras e revoluções” segundo Lenin, tal período histórico da sociedade burguesa nada mais faz do que criar as bases materiais para as relações de produção socialista e a emancipação humana com o fim da sociedade de classes, só possível pela ação revolucionária e consciente das massas dirigidas pelo proletariado e seu partido comunista, que acaudilhe atrás de si, todos os setores explorados e oprimidos pela sociedade do capital.

“O Estado e a Revolução”: a doutrina marxista do Estado e de seu desaparecimento histórico

Em 1917, pouco antes da insurreição proletária de outubro Lenin escreve “O Estado e a Revolução”, obra imprescindível a todos os trabalhadores conscientes e suas organizações, pois sistematiza e faz avançar a teoria marxista do Estado e seu caráter de classe, como nenhum outro antes. Também nesta obra, escrita no contexto de guerra e revolução, Lenin combate sem tréguas o oportunismo, chauvinismo e as posições renegadas dos chefes da II Internacional, em primeiro lugar Kautsky. Partindo dos escritos de Engels em “A Origem da Família”, Lenin demonstra como o Estado é uma força que brota da sociedade, mas que, no entanto, se situa acima dela, com os destacamentos de homens armados e as instituições que garantem a dominação de classe dos exploradores. Neste sentido, Lenin afirma que: “Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes, no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante que, também graças a ele, se toma a classe politicamente dominante e adquire, assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada. Não só o Estado antigo e o Estado feudal eram órgãos de exploração dos escravos e dos servos, como também o Estado representativo moderno é um instrumento de exploração do trabalho assalariado pelo capital” (“O Estado e a Revolução”).

“O Estado e a Revolução” significa de fato um verdadeiro manifesto contra o oportunismo e ilusões eleitoreiras, pois fica patente que “fora o poder tudo é ilusão”; ou seja, os trabalhadores devem não se apossar para reformar, mas “destruir a máquina estatal burguesa” e substituí-la pela ditadura do proletariado em armas contra a burguesia, como única forma de quebrar sua base material e econômica de dominação através da eliminação da propriedade privada dos meios de produção, e da condução da sociedade pelos trabalhadores conscientes e desalienados, senhores do seu destino como portadores históricos e agentes materiais destinados a pôr um fim na sociedade dividida em classes sociais antagônicas.

Na perspectiva leninista:“O proletariado se apodera da força do Estado e começa por transformar os meios de produção em propriedade do Estado. Por esse meio, ele próprio se destrói como proletariado, abole todas as distinções e antagonismos de classes e, simultaneamente, também o Estado, como Estado. A antiga sociedade, que se movia através dos antagonismos de classe, tinha necessidade do Estado, isto é, de uma organização da classe exploradora, em cada época, para manter as suas condições exteriores de produção e, principalmente, para manter pela força a classe explorada nas condições de opressão exigidas pelo modo de produção existente (escravidão, servidão, trabalho assalariado). O Estado era o representante oficial de toda a sociedade, a sua síntese num corpo visível, mas só o era como Estado da própria classe que representava em seu tempo toda a sociedade: Estado de cidadãos proprietários de escravos, na antiguidade; Estado da nobreza feudal, na Idade Média; e Estado da burguesia de nossos dias. Mas, quando o Estado se torna, finalmente, representante efetivo da sociedade inteira, então torna-se supérfluo. Uma vez que não haja nenhuma classe social a oprimir; uma vez que, com a soberania de classe e com a luta pela existência individual, baseada na antiga anarquia da produção, desapareçam as colisões e os excessos que daí resultavam - não haverá mais nada a reprimir, e, um poder especial de repressão, um Estado, deixa de ser necessário. O primeiro ato pelo qual o Estado se manifesta realmente como representante de toda a sociedade - a posse dos meios de produção em nome da sociedade - é, ao mesmo tempo, o último ato próprio do Estado. A intervenção do Estado nas relações sociais se vai tornando supérflua daí por diante e desaparece automaticamente. O governo das pessoas é substituído pela administração das coisas e pela direção do processo de produção. O Estado não é ‘abolido’: morre. É desse ponto de vista que se deve apreciar a palavra de ordem de ‘Estado livre do povo’, tanto em seu interesse passageiro para a agitação, como em sua definitiva insuficiência científica; é, igualmente, desse ponto de vista que se deve apreciar a reivindicação dos chamados anarquistas, pretendendo que o Estado seja abolido de um dia para o outro.”(idem).

1917: os trabalhadores tomam o poder

A revolução de outubro significou o maior acontecimento histórico do ponto de vista dos explorados e oprimidos em todo o mundo. Pela primeira vez na história, os trabalhadores tinham tomado o poder de Estado das mãos dos opressores e eliminado seus privilégios de classe. Vale dizer que o período que precedeu a tomada do poder pelos bolcheviques, foi marcado pelo mais duro combate entre as classes em luta. A burguesia russa, apoiada por todos os exploradores internacionais resistiram o máximo que permitiram suas forças, para não perderem seu “direito” à exploração. Acontece que em 1917 a classe burguesa já estava condenada pela história.

O proletariado, antagonista histórico da burguesia, entrava em cena na arena da luta de classes de forma independente, possuindo as condições objetivas e bases materiais para derrocar o poder do capital. Já nas revoluções de 1848, a burguesia pressente o fim de sua fase progressista e início de seu período irracionalista, marcado pelo freio ao desenvolvimento das forças produtivas e do próprio desenvolvimento humano em todo o seu potencial. Marx nos diz em seu “Dezoito Brumário” que: “A burguesia tomava consciência, com razão, de que todas as armas que havia forjado contra o feudalismo voltavam-se agora contra ela; que toda a cultura que havia gerado rebelava-se contra sua própria civilização; que todos os deuses que criara a haviam negado”. Embora os oportunistas e reformistas mencheviques, socialistas revolucionários, anarquistas e acadêmicos pequeno-burgueses vociferassem com pose indignada contra os bolcheviques, sobre a suposta prematuridade da revolução de outubro, reivindicando mecanicamente que o país perseguisse a trilha da burguesia ocidental, o regime imperialista já havia estabelecido a divisão mundial do trabalho, reservando para os países atrasados como a Rússia Czarista, a dependência e a subordinação.

Segundo Trotsky: “Os países atrasados assimilam as conquistas materiais e ideológicas das nações avançadas. Mas isto não significa que sigam estas últimas servilmente, reproduzindo todas as etapas de seu passado. A teoria da reiteração dos ciclos históricos – procedente de Vico e seus discípulos – apoia-se na observação dos ciclos das velhas culturas pré-capitalistas e, em parte também, nas primeiras experiências do capitalismo[...]O capitalismo prepara e, até certo ponto, realiza a universalidade e permanência na evolução da humanidade. Com isto se exclui já a possibilidade de que se repitam as formas evolutivas das distintas nações. Obrigado a seguir os países avançados, o atrasado não ajusta em seu desenvolvimento a concatenação das etapas sucessivas[...]O desenvolvimento desigual, que é a lei mais geral do processo histórico, não se revela, em nenhuma parte, com maior evidência e complexidade do que no destino dos países atrasados. Açoitados pelo chicote das necessidades materiais, os países atrasados se veem obrigados a avançar aos saltos. Desta lei universal do desenvolvimento desigual da cultura decorre outra que, por falta de nome mais adequado, chamaremos de lei do desenvolvimento combinado, aludindo à aproximação das distintas etapas do caminho e à confusão de distintas fases, ao amálgama de formas arcaicas e modernas. Sem recorrer a esta lei, enfocada, naturalmente, na integridade de seu conteúdo material, seria impossível compreender a história da Rússia, nem a de nenhum outro país de avanço cultural atrasado, seja em segundo, terceiro ou décimo grau.” (Leon Trotsky, “História da Revolução Russa”).

No início de fevereiro de 1917, devido à escassez de alimento, recrudescimento da pobreza e efeitos nefastos da guerra, grandes distúrbios e instabilidade social e política se intensificam em Petrogrado. As grandes greves políticas tomam conta da capital, sacudindo o poder do Czar. Segundo Trotsky, “Os primeiros dois meses de 1917 mostram 575 mil grevistas políticos, a maior parte dos quais correspondem à capital[...] Em cada fábrica, um número ativo estava se formando, geralmente em torno dos bolcheviques.” (idem). Em 23 de fevereiro (08 de março pelo calendário atual), por ocasião do dia internacional da mulher, reuniões, passeatas e manifestações tomam conta da capital, tendo as tecelãs importante participação. Em três dias, as greves que explodem tornam-se generalizadas, um primeiro passo de fato para a insurreição, marcados pelo enfrentamento contra a polícia e influenciando profundamente a psicologia de boa parte dos soldados das forças armadas. O dia 23 de fevereiro foi o estopim do grande movimento de massas revolucionário que conduziram à Revolução de Fevereiro, tendo os Sovietes participação fundamental no processo, pondo fim a monarquia absolutista e dando origem ao governo provisório, encabeçado pelo príncipe Lvov, posteriormente substituído pelo governo burguês liberal de Kerensky, baseado na colaboração de classes através dos seus ministros mencheviques e socialistas revolucionários, não resolvendo as grandes demandas das massas proletárias e populares e mantendo a Rússia na guerra.

Lenin, que estava exilado em Zurique na Suíça, percebe que todo o potencial revolucionário das massas estava longe de ter se esgotado. Em abril Lenin desembarca em Petrogrado e é recebido por uma multidão de operários e soldados, em seguida pronuncia duro discurso contra o governo provisório e faz o chamado à revolução proletária. Escreve em seguida suas conhecidas “Teses de Abril”, onde defende a necessidade de levar adiante a revolução socialista no país, não se detendo na república parlamentar burguesa. Trotsky já havia advertido que a república que saiu da Revolução de Fevereiro “não é a nossa república e a guerra que ela conduz não é a nossa guerra”. Lenin em suas “Teses”, que eram posições muito parecidas às de Trotsky, defende “[...] uma república dos sovietes de deputados de operários, assalariados agrícolas e camponeses de todo o país”

Nos meses que antecederam a revolução de outubro, Lenin lança o chamado para que os ministros mencheviques e socialistas revolucionários rompessem com os ministros capitalistas e tomassem o poder em suas mãos, o que eles se negaram. As massas se radicalizavam e os bolcheviques ganhavam influência entre os trabalhadores. A luta de classes ficava cada vez mais quente; segundo John Reed em seu clássico trabalho “Os Dez dias que Abalaram o Mundo”: “E em julho, a sublevação espontânea e desorganizada do proletariado, que assaltou novamente o Palácio da Táurida aos gritos de ‘Todo o poder aos sovietes!’, demonstrou, mais uma vez, que as massas estavam decididas a impor sua vontade. [...] Os bolcheviques constituíam nesse momento um pequeno partido, mas se colocaram, resolutamente, à testa do movimento de julho”. O Governo Provisório, parido da insurreição de fevereiro, dá início a uma verdadeira caçada aos bolcheviques. Uma ordem de prisão contra Lenin é expedida, acusando-o de provocador à soldo da Alemanha. Centenas de militantes bolcheviques foram presos, entre eles Trotsky, Alexandra Kolontai e Zinoviev. Lenin foge para a Finlândia, onde começa a escrever “O Estado e a Revolução”.

Em agosto, o general Kornilov tenta impor um golpe e uma ditadura fascista para salvar o Estado burguês. Kornilov mobiliza, além de parte das tropas, um considerável contingente armado informalmente, conhecidos como “Sociedades Patrióticas” de Petrogrado, muito semelhante aos agrupamentos fascistas posto em marcha por Mussoline e Hitler em seu tempo, também parecidas com as milícias cariocas aqui no Brasil. Kerensky, por medo da insurreição de Kornilov e pretendendo ganhar apoio dos bolcheviques, liberta Trotsky e outros bolcheviques. O levante organizado e armado dos trabalhadores de Petrogrado, dirigidos pelos bolcheviques, sem capitular a Kerensky, esmagam a contra-revolução kornilovista, fazendo com que o partido de Lenin, ganhasse a total simpatia das massas e da base das forças armadas russa. O caminho para a revolução se acelerava. Em seguida, os bolcheviques conquistam grande influência nos Sovietes de Moscou e Petrogrado (Trotsky era o presidente do Soviete de Petrogrado), dirigindo os principais setores do proletariado e das massas russas. O Governo provisório balançava e encontrava-se reduzido à impotência. Lenin, da Finlândia, fez duras críticas aos dirigentes bolcheviques, sobretudo Stalin, Kamenev e Zinoviev, que eram contrários à tomada do poder pelos trabalhadores. Essa ala do partido via na Revolução de Fevereiro, a concretização do máximo que o proletariado russo poderia fazer: pensavam “Outubro” como utopia. Lenin diz em uma carta enviada ao Comitê Central que “Os eventos estão determinando nossa tarefa tão claramente para nós que a procrastinação está se tornando nitidamente criminosa[...]Esperar seria um crime para a Revolução”.

O Comitê Militar Revolucionário, do Soviete de Petrogrado, liderado por Trotsky, dirige a tomada do poder em 25 de outubro de 1917, mobilizando os operários, soldados e Marinheiros a ocuparem as redes ferroviárias, centrais telefônicas, Correios, tipografias, banco oficial, etc., tomando de fato o poder de Estado das mãos da burguesia. No dia 26 de outubro, no “II Congresso dos Sovietes de toda a Rússia”, é anunciado a todo o mundo o poder proletário e a derrubada do Estado capitalista. Lenin, dirigindo o Congresso anunciaria: “Procederemos para a construção da ordem Socialista.” Dias depois, o governo dos Sovietes, liderado por Lenin, emitiu diversos decretos sobre a questão da terra que beneficiava os camponeses, propostas de paz, abolição da diplomacia secreta, sobre autodeterminação dos povos, separação entre igreja e Estado, sobre o controle dos trabalhadores, a igualdade completa de homens e mulheres, etc. Estavam dadas as bases da ditadura do proletariado contra os exploradores. Em seguida o governo dos Sovietes expropria os principais setores capitalistas e latifundiários.

A Contrarrevolução

Pouco tempo depois do sucesso da revolução, numerosos levantes contrarrevolucionários causaram milhares de mortos. Os mencheviques por exemplo, que dirigiam o importante Sindicato dos Ferroviários, tentaram por todos os meios sabotar o sucesso da revolução. Além de diversos problemas que apareciam no sentido da reorganização da economia, que se encontrava em situação caótica devido principalmente à guerra, o governo de Lenin teve de enfrentar, em um momento de grande dificuldade, a invasão imperialista que tentava estrangular a revolução. Vinte e um exércitos estrangeiros, contando com o apoio dos mencheviques e dos socialistas revolucionários, ocupavam diversos fronts visando liquidar o Estado Soviético. O conjunto destas forças militares internacionais burguesas formavam o Exército Branco, uma força internacional bélica dirigida pelo imperialismo.

Atentados terroristas contra Lenin, Trotsky e outros líderes bolcheviques foram cometidos pela reação. Os Brancos planejavam explodir o trem de Trotsky, e Lenin fora baleado. O Exército Vermelho, criado e dirigido por Trotsky implementou grande ofensiva em toda a parte e impôs uma derrota histórica ao terror Branco do imperialismo. No entanto, a ofensiva da reação e a guerra civil, criaram imensas dificuldades ao Estado soviético, que teve de recorrer ao “comunismo de guerra” e a Nova Política Econômica (NEP) ao fim da Guerra Civil, voltando sua economia essencialmente para a militarização e abrindo certas concessões ao capital e a determinadas relações capitalistas. Do contrário seria a derrocada militar, bancarrota econômica e o fim da revolução. Com a vitória histórica do Exército Vermelho, solidificava-se assim, o Estado Operário. Importante enfatizar que apesar de imensas dificuldades que rodeavam o Estado Operário, os bolcheviques, sobretudo Lenin e Trotsky, dispensam imensa energia para a fundação em março de 1919 da III Internacional, o partido mundial da revolução. Seus quatro primeiros Congressos e suas resoluções marcam um profundo avanço na luta internacional dos trabalhadores, como a defesa da Frente Única, a orientação para que os comunistas desenvolvessem o trabalho nas fábricas, criar núcleo comunista nelas, impulsionar a organização de conselhos operários e batalhar pelo ganho de hegemonia entre a classe. Outras resoluções de grande importância para orientar a luta dos trabalhadores, foram sobre o trabalho da mulher, a questão dos negros e sobre a revolução nos países do Oriente. A III Internacional dava conta da nova época pelo qual adentrava a sociedade burguesa, ou seja, a época do imperialismo e da necessidade da luta mundial contra o capital.

Os últimos dias e o ascenso da burocracia

Ao fim da Guerra Civil, a economia soviética estava em penúria. Suas forças foram mobilizadas para sustentar as tropas no front, que tinha de defender a pátria operária do assédio imperialista. A direção bolchevique, para tentar impulsionar a economia teve de recorrer a NEP, que permitia aos camponeses negociar seus grãos pelo livre mercado e abria concessões a determinados setores capitalistas. No cenário internacional, a Rússia soviética se encontrava isolada e sabotada, tanto política, mas fundamentalmente economicamente pelo mundo capitalista. Dado o caráter histórico de atraso econômico e das forças produtivas da Rússia, potencializados pela destruição causados pela Guerra, os trabalhadores ao tomarem o poder se deparavam com todo tipo de dificuldades e sabotagens. Tinham de reerguer o país, resolver os problemas mais elementares como o da fome, mas também desenvolver as forças produtivas da nação e elevar a produtividade do trabalho. Após longos anos de guerra, revolução e sacrifícios de todo tipo exigidos das massas, um período de abatimento e refluxo toma conta de grandes parcelas dos trabalhadores. Seus melhores, abnegados e mais audaciosos elementos foram mortos na Guerra Civil contra o terror Branco. Esta conjuntura favorece o ascenso de uma casta burocrática que ganhava corpo na direção do Partido e do Estado operário.

De acordo com Trotsky: “A uma intervenção sucedia a outra. Os países do Ocidente não forneciam uma ajuda direta. Em vez do esperado bem-estar, o país viu instalar-se, por muito tempo, a miséria. Os mais notáveis representantes da classe operária tinham desaparecido durante a guerra civil ou, subindo alguns degraus, tinham se desligado das massas. Assim sobreveio, após uma prodigiosa tensão de forças, de esperanças e de ilusões, um longo período de fadiga, de depressão e de desilusão. O refluxo do ‘orgulho plebeu’ teve como corolário um afluxo do arrivismo e pusilanimidade. Estas marés conduziram ao poder uma nova camada de dirigentes” (Leon Trotsky, “A Revolução Traída”). Lenin, por sua vez, já percebia essas tendências burocráticas no interior do poder de Estado e do próprio partido. Desde de 1920 vinha assinalando estas “deformações burocráticas”. Após voltar ao trabalho, depois de sua primeira enfermidade, Lenin se assusta com o grau atingido pela burocracia e sua influência degeneradora. Antes de sofrer seu segundo ataque cerebral, pronuncia três discursos atacando a burocracia. Em um destes, afirmava: “O que necessitamos é que os comunistas controlem a máquina para a qual foram designados e não, como frequentemente acontece entre nós, que a máquina os controle”. (Obras Completas, T. XXXIII).

Em seguida, no dia 16 de dezembro de 1922, Lenin sofre seu segundo ataque que o retira da vida pública facilitando o caminho da burocracia. Em 4 de janeiro de 1923, debilitado, dita um “pós-escrito”, conhecido como seu testamento, onde afirma: “o camarada Stalin, ao converter-se em secretário geral, concentrou em suas mãos um poder ilimitado e não estou seguro de que seja sempre capaz de utilizar essa autoridade com cautela”, propondo dessa forma que o partido “buscasse a forma de remover Stalin” de seu cargo de Secretário-Geral. (Lenin, “Diário das Secretárias”). Lenin dedica seu último período de vida a combater a burocracia, em uma de suas últimas conversas com Trotsky lhe orienta: “Propõe, então, iniciar a luta não só contra a burocracia de Estado, mas também contra a comissão de organização do Comitê Central?” (Trotsky, “Minha Vida”). Lenin pensava em formar com Trotsky um bloco contra a burocracia. Ainda segundo Trotsky, “A sua intenção (de Lenin) era criar uma comissão agregada ao comitê central para a luta contra a burocracia, e da qual devíamos ambos participar. Afinal de contas, tal comissão devia funcionar como uma alavanca para destruir a fração stalinista, espinha dorsal da burocracia, e para criar, no partido, as condições que me dessem a possibilidade de vir a ser substituto de Lenin, e, segundo a sua ideia, o seu sucessor na presidência do conselho dos comissários do povo.” (idem).

Lenin preparava uma dura batalha contra a burocracia para o XII Congresso do Partido Comunista Russo. Mas em 9 de março sofre um novo ataque cerebral que o paralisa completamente. No dia 24 de janeiro de 1924, o coração e cérebro genial de Lenin deixam de funcionar, e o grande chefe do proletariado mundial morre prematuramente. A obra de Lenin permanecera através dos tempos. Seu legado, seu método e exemplo mantém toda a integridade revolucionária e servem como guia para o proletariado e seus aliados. Diante da decadência mundial do regime capitalista, que tem acirrado a barbárie como forma de ser da sociedade burguesa, as contribuições de Lenin são valiosos instrumentos na luta da classe trabalhadora. Mais do que nunca o partido de Lenin se faz atual, como único instrumento capaz de conduzir às massas a derrubada violenta da sociedade capitalista em direção ao socialismo. Diante da crise de direção pelo qual passa o proletariado revolucionário, é cada vez mais urgente recorrermos ao legado e a obra de Lenin, como arma indispensável na luta pela destruição do mundo burguês!
Lenin e esposa

Para terminar, ressaltamos as belas palavras de Trotsky, em nota divulgada um dia após o falecimento de Lenin, sobre o grande chefe revolucionário: “[...] como iremos prosseguir? Encontraremos o caminho? Não iremos perder-nos? Porque Lenin, camaradas, já não se encontra entre nós… Lenin já não existe, mas temos o leninismo. O que havia de imortal em Lenin – os seus ensinamentos, o seu trabalho, os seus métodos, o seu exemplo – vive em nós, neste Partido que criou, neste primeiro Estado operário à cabeça do qual se encontrou e que ele dirigiu. Neste momento, os nossos corações estão invadidos por esta dor tão profunda, porque todos nós fomos contemporâneos de Lenin, trabalhamos a seu lado, estudamos na sua escola. O nosso Partido é o leninismo em ação; o nosso Partido é o chefe coletivo dos trabalhadores. Em cada um de nós vive uma parcela de Lenine, o que constitui o melhor de cada um de nós[...]”.

ROBERTO BERGOCI - SP


BIBLIOGRAFIA


O QUE É BOLCHEVISMO
LENIN E O LEGADO UNIVERSALISTA DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO
HISTÓRIA DO PARTIDO COMUNISTA (BOLCHEVIQUE) DA URSS

domingo, 6 de julho de 2025

PENSAMENTO COMANDANTE CLEMENTE * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO COMANDANTE CLEMENTE
QUEM FOI CARLOS EUGÊNIO PAZ - CODINOME CLEMENTE
ISA ALBUQUERQUE/PROGRAMA 20 MINUTOS
Carlos Eugenio Paz O Guerrilheiro Clemente
FALECIMENTO DE CARLOS EUGÊNIO SARMENTO CÔELHO DA PAZ, COMANDANTE CLEMENTE

Acaba de falecer nosso companheiro e irmão de lutas, o Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente, um dos últimos comandantes da Ação Libertadora Nacional - ALN.
Ele tinha um câncer de laringe. Este se complicou após tratamento de quimioterapia e radioterapia . Estava internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Faleceu nesta data, 29 de junho de 2019, as 16 horas, na cidade de Ribeirão Preto.

Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, codinome: “Clemente”.

Nascimento: 23 de julho de 1950
Maceió, Brasil
Falecimento: 29/06/2019, às 16:00 horas, aos 69 anos, em Ribeirão Preto.
Nacionalidade: brasileiro
Ocupação: Escritor, músico, ex-guerrilheiro, militante da ALN - Ação Libertadora Nacional.

Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, codinome: Clemente. Nascido em Maceió, 23 de julho de 1950) é um músico, escritor e ex-guerrilheiro que participou da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Ele foi o último comandante militar da organização de esquerda Ação Libertadora Nacional (ALN),[1] após a morte de Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira, aos 21 anos de idade. Um dos quatro brasileiros condenados à morte in absentia pelo regime,[2] foi também um dos poucos integrantes da luta armada que sobreviveu sem nunca ter sido preso ou torturado, exilando-se na Europa em 1973 após o desmantelamento das organizações subversivas pelas forças de repressão do governo. Foi um dos últimos brasileiros anistiados, em maio de 1982.

Biografia

Participação na Guerrilha

Quando chegou ao Rio de Janeiro com a família vindo de Alagoas, foi estudar no Colégio Andrews, onde seu sotaque nordestino era debochado, o que levava a brigas diárias do lado de fora da sala de aula.[3] Começou a fazer política em 1966, aos 16 anos e no ano seguinte, estudante do Colégio Pedro II, deixou a escola para ingressar na ALN de Carlos Marighella, por quem foi instruído a servir o Exército no Forte de Copac

CLEMENTE GUERRILHEIRO

terça-feira, 1 de julho de 2025

PENSAMENTO GEOPOLÍTICO IMPERIALISTA * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO GEOPOLÍTICO IMPERIALISTA
"NATO, com rifle e porrete puros
Sergio Ferrari / Pela Nossa América

Ventos militaristas sopram de um tsunami unipolar que pode reduzir o planeta a escombros. Em poucos dias, porretes serão sacados e facas serão afiadas em Haia. O encontro será nos dias 24 e 25 de junho, no Fórum Mundial em Haia, Holanda, em uma cidade militarizada (um verdadeiro símbolo) controlada por pelo menos 27.000 soldados de diversas forças, para a qual o governo está destinando € 95 milhões.

Os atores são representantes dos 32 países que compõem a Aliança do Tratado do Norte (OTAN), bem como de uma dúzia de seus "parceiros globais". O objetivo é multiplicar os orçamentos militares de todos os seus Estados-membros, em uma escalada militar que a Aliança justifica olhando diretamente para a Rússia e de soslaio para a China.

Embora não seja novidade, como ele vem repetindo há meses, a mais recente apresentação de Mark Rutte, Secretário-Geral da OTAN, em 9 de junho na Chatham House, em Londres, atualiza as perspectivas desta organização e antecipa os objetivos da referida Cúpula. Essencialmente, aprovar o que Rutte define como o plano para transformar a Aliança e "construir uma OTAN melhor... mais forte, mais justa e mais letal. Para que possamos continuar a manter nossos povos seguros e nossos adversários à distância"

Rutte, líder do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia, de direita, de 2006 a 2023 e primeiro-ministro por quatorze anos (2010-2024), analisa a geopolítica global de forma tão simplista quanto linear: "Por causa da Rússia, a guerra retornou à Europa. Também enfrentamos a ameaça do terrorismo e a feroz competição global." Ele ressalta que a Rússia se aliou à China, Coreia do Norte e Irã, e que todos eles "estão expandindo suas forças armadas e capacidades". Em termos de munições, afirma ele, a Rússia produz em três meses o que a OTAN produz em um ano, e estima-se que sua base industrial de defesa fabrique 1.500 tanques, 3.000 veículos blindados e 200 mísseis Iskander somente em 2025. Segundo Rutte, "a Rússia poderá estar pronta para usar força militar contra a OTAN dentro de cinco anos."

Agora Secretário de Estado da Aliança, Mark Rutte argumenta que a China também está modernizando e expandindo suas forças armadas em um ritmo vertiginoso: “Ela já possui a maior marinha do mundo. E sua força de combate deve aumentar para 435 navios até 2030. Ela está fortalecendo seu arsenal nuclear. Seu objetivo é ter mais de 1.000 ogivas nucleares operacionais até 2030.” E ele alerta que “aqueles que se opõem à liberdade e à democracia estão se entrincheirando. Estão se preparando para um confronto de longo prazo. E estão tentando nos dominar e nos dividir.” A conclusão de Rutte é contundente: “Não há mais Oriente ou Ocidente: existe apenas a OTAN.”

Plano apocalíptico

Para o Secretário-Geral da OTAN, não há dúvida de que "uma OTAN mais forte significa investir muito mais em nossa defesa". Ele afirma que, até o final de 2025, todos os Estados-membros da OTAN atingirão sua meta inicial de destinar 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) à defesa — uma meta que se alinha à promessa já firmada durante a Cúpula da Aliança em Newport, País de Gales, em 2014. No entanto, naquela ocasião, o consenso não era vinculativo, ou seja, obrigatório.

“Agora temos um plano concreto para o futuro”, afirma Rutte, acrescentando que “sabemos o que precisamos e sabemos o que fazer”. Expandindo as novas demandas do governo Trump, Rutte espera que, na Cúpula de Haia, os líderes aliados concordem em alocar 5% de seus respectivos orçamentos nacionais para a defesa a médio prazo. “Será um compromisso de toda a OTAN e um momento decisivo para a Aliança”, antecipa Rutte.

Seu plano consiste em duas partes: 3,5% dessas contribuições serão alocadas ao que ele considera necessidades militares básicas. O restante será destinado a investimentos relacionados à defesa e segurança, incluindo infraestrutura e desenvolvimento de capacidade industrial. Este programa, com propostas que Rutte já considera "decisões", baseia-se nos planos de batalha e metas de capacidade da Aliança — ou seja, o volume de forças e capacidades esperado de seus aliados. Rutte é direto: "Os detalhes exatos são confidenciais, mas precisamos de um aumento de 400% na defesa aérea e antimísseis... Nossos exércitos também precisam de milhares de veículos blindados e tanques adicionais. Milhões de projéteis de artilharia adicionais. E devemos dobrar nossas capacidades de apoio, como logística, suprimentos, transporte e apoio médico. Os aliados investirão em mais navios de guerra e aeronaves. Por exemplo, adquirirão pelo menos 700 caças F-35 [da multinacional americana Lockheed Martin]. Também investiremos em mais drones e sistemas de mísseis de longo alcance. E aumentaremos nosso investimento em capacidades espaciais e cibernéticas."

O outro olhar

O movimento global pela paz há muito tempo critica fortemente a OTAN, que define como uma aliança militar cuja razão de ser se baseia no uso (ou ameaça) da violência. Várias de suas principais organizações parceiras, que compõem a Coalizão Contra-Cúpula pela Paz e Justiça, estão convocando uma iniciativa conjunta de reflexão e mobilização em Haia, nos dias 21 e 22 de junho. Essa coalizão, composta por organizações e ativistas que se opõem à militarização da Europa e do mundo, afirma que, embora "os líderes da OTAN planejem aumentar os gastos com defesa, uma forte contramensagem está sendo ouvida: os bilhões gastos em armas estão exacerbando a insegurança, minando a justiça social e acelerando a crise climática".

Conforme observado pelo Instituto Transnacional (TNI), sediado em Amsterdã, um dos promotores desta iniciativa, “nos dias que antecedem a cúpula da OTAN, a coalizão busca amplificar uma voz crítica e alternativa”. Por meio de mesas redondas, workshops e conferências, este contraevento “explorará os riscos da abordagem militarizada da OTAN e promoverá caminhos para uma paz sustentável e justa”. O evento culminará com uma manifestação de rua contra a cúpula da Aliança

O próprio TNI acaba de publicar o documento STOP sobre a Cúpula de Guerra da OTAN, preparado por três organizações especializadas. Ele analisa, entre outros tópicos, as diversas "maneiras pelas quais a OTAN contribui especificamente para aumentar a insegurança, dificultar a paz sustentável e manter a injustiça".

Entre seus argumentos, a TNI aponta que a opção da aliança militar pela violência deixa "outros ângulos e vias, como a diplomacia, a prevenção de conflitos e o diálogo" em segundo plano. Aponta que a OTAN se concentra nos interesses de seus Estados-membros, o que "vai além da defesa coletiva do território comum". Argumenta que busca manter e expandir a posição (poderosa) dos países da OTAN globalmente e competir com seus concorrentes geopolíticos (China e Rússia), bem como garantir o acesso a matérias-primas (combustíveis fósseis). Nesse sentido, observa o documento da TNI, a OTAN constitui "principalmente o braço militar do capitalismo ocidental".

O documento do TNI lembra que guerras e outras operações militares envolvendo a OTAN "causam muitas mortes, ferimentos, traumas, destruição e danos ambientais" e que "países como Afeganistão, Iraque e Líbia são deixados em ruínas e se tornam um campo de caça para empresas ocidentais em áreas como reconstrução, exploração de matérias-primas e segurança". Além disso, argumenta que a expansão da OTAN e o escudo antimísseis aumentam as tensões. Após o fim da Guerra Fria, quando muitos antigos países do Pacto de Varsóvia aderiram à OTAN, a Rússia percebeu essa expansão para o oeste como uma ameaça. A retirada dos EUA do Tratado de Mísseis Antibalísticos com a Rússia e a construção de um escudo antimísseis aumentaram as tensões. A aceitação da Ucrânia como potencial candidata à OTAN é citada como uma das causas da invasão russa.

A TNI argumenta que, em vez de pressionar pelo desarmamento nuclear, “a possibilidade de implantar armas nucleares constitui uma parte central da estratégia militar da OTAN”, sabendo que “as armas nucleares são as mais destrutivas do mundo”. A nível climático, argumenta o documento publicado pela TNI, os efeitos nocivos desta estratégia militarista são notáveis ​​porque “o complexo militar-industrial contribui significativamente para as emissões de gases com efeito de estufa, representando 5,5% do total global”. Além disso, este complexo “está fora de todos os acordos climáticos”. Em relação à expansão territorial da OTAN, a TNI fala da “militarização das fronteiras externas da Europa, nos mares Mediterrâneo e Egeu” e alega que “esta vigilância de fronteiras contribui para a violência e violações dos direitos humanos contra refugiados e obriga-os a utilizar rotas mais perigosas e os serviços de traficantes de pessoas”.

Por fim, a TNI responsabiliza a OTAN pelo desperdício de dinheiro ao apoiar a indústria de armamentos, estimular o desenvolvimento de novas armas e tecnologias militares e promover a expansão da capacidade de produção de armas. Também denuncia o apoio da OTAN a regimes autoritários, visto que frequentemente coopera com outros países parceiros para promover seus interesses, mas sem dar muita atenção à natureza de alguns desses governos, como Egito, Cazaquistão, Paquistão, Tadjiquistão e Emirados Árabes Unidos, bem como Israel, um importante aliado apesar de anos de violência, ocupação e opressão israelense contra o povo palestino.

Vozes antimilitaristas

Multiplicam-se as críticas e as iniciativas dissidentes contra a política oficial europeia e da OTAN. Por exemplo, o Apelo Unido contra o Rearmamento Europeu e a Continuidade da OTAN, promovido por organizações ambientais, de direitos humanos, de paz e desenvolvimento, principalmente na Espanha, mas não exclusivamente por lá 

Esta iniciativa considera a Aliança Atlântica parte de um sistema de segurança "que tem violado repetidamente a Carta das Nações Unidas, gerando maior insegurança em diversas áreas geográficas do mundo". Opõe-se à "atual mobilização militar dos EUA de 750 bases em mais de 80 países". Expressa preocupação com "a existência de um arsenal de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares, que coloca em risco a existência da humanidade e a vida no planeta". Rebela-se contra "guerras comerciais impostas pelas elites econômicas em seu próprio benefício e contra os interesses da maioria social em escala global". E defende um sistema de segurança baseado no fomento da confiança e da cooperação entre países e interessado em responder a ameaças globais como a fome, a desnutrição, a pobreza, a desigualdade, as doenças, o desemprego, a emergência climática, as armas de destruição em massa, o desrespeito aos direitos humanos e o descumprimento sistemático do direito internacional.

Outra iniciativa, a Campanha Parem o Rearmamento. Bem-Estar Social em Vez de Guerra, busca se tornar um movimento continental. Como afirmam seus promotores: "Nos opomos aos planos da União Europeia de gastar mais € 800 bilhões em armas". Eles acrescentam: "São € 800 bilhões roubados. Roubados de serviços sociais, saúde, educação, empregos, construção da paz, cooperação internacional, uma transição justa e justiça climática [e] beneficiarão apenas os fabricantes de armas na Europa, nos Estados Unidos e em outros países."

Um conceito endossado por Jordi Calvo, coordenador do Centro Delàs de Estudos para a Paz, com sede em Barcelona e presença em outras cidades da Espanha. Ele é signatário do Apelo Unitário e membro do Stop Rearmamento. "O aumento de 5% proposto pela OTAN visa aumentar o dinheiro disponível para a indústria militar", ressalta Calvo. Ele insiste que "as armas que serão compradas com os aumentos propostos virão principalmente dos EUA, o principal promotor e beneficiário". Jordi Calvo define a prioridade do movimento pela paz como o desenvolvimento de "uma visão crítica das propostas militaristas da OTAN que podem ter sido decisivas para trazer a guerra de volta à Europa".

Guerra ou paz. OTAN ou o fim da militarização. Uma Europa em turbulência (com dezenas de atividades desafiadoras, como outra contracúpula a ser realizada em Bruxelas e uma Conferência de Paz em Madri) exige um debate fundamental na sociedade. Os que estão no poder (governos, a própria OTAN) buscam avançar linearmente, sem qualquer consulta, isolando o Velho Mundo e lançando-o na aventura da guerra. Setores importantes da sociedade levantam suas vozes, questionam, apostam em uma construção diferente da segurança continental e, acima de tudo, relembram os estragos e o alto preço que a Europa contemporânea teve que pagar por suas próprias guerras nas últimas onze décadas, começando com aquele desastroso 28 de julho de 1914.
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O PCP alerta para as graves decisões da cúpula da Otan

26 Junho 2025


Na sequência de uma intensíssima campanha visando justificar perante a opinião pública a corrida armamentista, a reunião de Chefes de Estado e Primeiros-Ministros da OTAN realizada em Haia em 25 de junho, acaba de confirmar e formalizar ao mais alto nível decisões que agravam a tensão internacional, desde logo na Europa, e que aumentam o perigo de conflitos militares de catastróficas proporções.

Particularmente grave é a decisão – exigida pelos EUA e servilmente aceita por seus aliados – de aumentar para 5% do PIB as despesas militares pelo que tal representa quanto à escalada militarista desta aliança agressiva e pelo programado desvio para o complexo militar-industrial de recursos indispensáveis ​​à melhoria das condições de vida dos trabalhadores e dos povos.

O PCP rejeita e combate a deriva belicista da cúpula de Haia, deriva que evidencia a real natureza da OTAN como braço armado do imperialismo e que acentua a exigência de sua dissolução.

O PCP denuncia a posição seguidista de submissão nacional do Governo PSD/CDS, posição indigna em que está completamente ausente qualquer assomo de brio patriótico (como está bem patente na cedência da base das Lajes para a agressão dos EUA ao Irão), afronta abertamente a Constituição da República Portuguesa e arrasta consigo o perigo de um trágico envolvimento de Portugal nas aventuras militares do imperialismo . O desvio de recursos para a guerra que o Governo se propõe a realizar tem a firme oposição do PCP que desde já denuncia as engenharias semânticas e as “contabilidades criativas” com que se procura esconder as graves consequências sociais de uma tal opção.

A agenda da cúpula de Haia foi desenhada para responder às exigências dos EUA e à sua afirmação como potência imperialista dominante, esconder as dificuldade e divergências que atravessam a OTAN e, sobretudo projetá-la como “a mais forte aliança da história”, protetora do “Ocidente” e da “ordem mundial com regras” ditada pelo imperialismo a que os trabalhadores e os povos de todo o mundo deveriam submeter-se. O apoio dado pelas grandes potências da OTAN e da UE à agressão dos EUA e de Israel ao Irã, assim como sua cumplicidade com o genocídio do povo palestino é da maior gravidade.

O PCP chama a atenção para que a promoção de uma economia de guerra na qual a Otan e a União Europeia estão engajadas é acompanhada em numerosos países, incluindo Portugal, pelo ataque aos direitos trabalhistas e outros direitos fundamentais e pela banalização e promoção da extrema direita.

Diante do sério agravamento da situação internacional e dos perigos resultantes da corrida aos armamentos que esta cúpula da OTAN alimenta, o PCP apela aos trabalhadores, à juventude, ao povo português para darem mais força à luta em defesa da soberania e independência nacionais, pela paz e em solidariedade com todos povos que lutam contra as ingerências e agressões do imperialismo.
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FONTE
PCP.PORTUGUAL
Outro protesto contra a política militar da OTAN ocorreu em Haia no principal dia da cúpula da aliança . O evento ocorreu no centro da cidade.
Os países da OTAN realizaram uma cúpula em Haia, após a qual os líderes do bloco concordaram em aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB. Além disso, a aliança prometeu apoio contínuo à Ucrânia, sem mencionar as perspectivas de admissão de Kiev à organização. O bloco também reiterou seu compromisso com o princípio da defesa coletiva. 
OTAN / COMANDO SUL
Países da OTAN celebram aumento da defesa armada para 5% do PIB por país

La Embajada de China en Moscú ha publicado la lista de países bombardeados por Estados Unidos después de la Segunda Guerra Mundial:

Japón: 6 y 9 de agosto de 1945
Corea y China: 1950-1953 (Guerra de Corea)
Guatemala: 1954, 1960, 1967-1969
Indonésia: 1958
Cuba : 1959-1961
Congo: 1964
Laos : 1964-1973
Vietnã : 1961-1973
Camboya: 1969-1970
Granada : 1983
Líbano: 1983, 1984 (ataques contra objetivos en Líbano y Siria)
Libye : 1986, 2011, 2015
Salvador : 1980
Nicaragua: 1980
Irã: 1987, 2025
Panamá : 1989
Irak: 1991 (Guerra del Golfo), 1991-2003 (invasiones estadounidenses y británicas), 2003-2015
Kuwait: 1991
Somalia: 1993, 2007-2008, 2011
Bósnia: 1994, 1995
Sudán: 1998
Afganistán: 1998, 2001-2015
Iugoslavia: 1999
Yemen: 2002, 2009, 2011, 2024, 2025
Paquistão: 2007-2015
Siria : 2014-2015

Esta lista incluye aproximadamente 30 países. China destacó que "nunca debemos olvidar quién es la verdadera amenaza para el mundo. "

Entonces surge la pregunta:
¿Ha expresado alguna vez la sociedad occidental su ira hacia los Estados Unidos?

¿Alguna vez una voz alta se ha levantado contra ellos?
¿Se han impuesto sanciones a los Estados Unidos alguna vez?
Todo este sistema global, al que llamamos la "comunidad internacional" se ha mantenido en silencio mientras los EE.UU atacan a países de todo el mundo como bandidos y convirtieron sus sueños en terribles pesadillas.

Sin condenación, sin reprimenda, sin resentimientos de ningún tipo.
Una conciencia global covarde, avergonzada e hipocrita.
Esta lista debe ser circulada en todas las plataformas posibles. Hay que hacer videos para denunciar a todos estos hipócritas occidentales y recordarnos cada hecho de los crímenes cometidos por Estados Unidos en todo el mundo.
La lista fue publicada por la Embajada de China en Rusia (Moscú) como un mensaje político y moral, en un momento en que los medios internacionales y los países occidentales condenaron enérgicamente el ataque de Irán contra Israel, pero donde el pasado de los Estados Unidos fue totalmente ignorado.
La lista fue publicada para denunciar el doble peso, dos medidas tomadas por Estados Unidos y Occidente en materia de derechos humanos, derecho internacional y seguridad mundial.
Cuando Irán tomó represalias contra Israel, los Estados Unidos y sus aliados comenzaron a llamar a Irán una "amenaza mundial. La Embajada de China publicó esta lista en respuesta a una campaña crítica para recordar que la verdadera amenaza es un país que ha bombardeado a más de 30 países desde la Segunda Guerra Mundial.
La posición de China es que los Estados Unidos no están calificados para expresarse moralmente, porque su pasado y presente están marcados por violaciones de los derechos humanos y agresión global.
China envió un mensaje más amplio al publicar esta lista:
"El mundo necesita recordar quién es la verdadera amenaza. Los medios de comunicación y los gobiernos occidentales muestran hipocresía, y cuando Estados Unidos comete masacres permanecen en silencio. "Este movimiento no es sólo un movimiento diplomático o informativo, sino también una respuesta política y una acusación moral a la narrativa unilateral propagada por los Estados Unidos y sus aliados. "


BASES MILITARES ESTADUNIDENSES NA AMÉRICA LATINA

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