quarta-feira, 11 de junho de 2025

PENSAMENTO IMPERIALISTA * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO IMPERIALISTA
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Bases militares na América Latina: Soberania à venda?

A militarização na América Latina ganhou novo impulso no século XXI, caracterizada pela interferência de potências estrangeiras, cujas políticas de segurança e defesa consolidaram um sistema de controle que compromete a soberania dos países da região.

A realidade é que o impacto dessas bases militares tem sido extremamente negativo. Elas cederam soberania e, claro, em termos de segurança, não alcançaram os resultados esperados”, disse Gabriel Aguirre, organizador latino-americano do Movimento Global Um Mundo Além da Guerra, em entrevista à Acentos.

Os Estados Unidos têm perseguido uma estratégia de dominação nas esferas política, econômica, diplomática e até militar, e o fizeram de várias maneiras, não apenas por meio de processos de militarização, mas também por meio de acordos bilaterais”, concluiu.
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quarta-feira, 4 de junho de 2025

PENSAMENTO IBRAHIM TRAORÉ * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO IBRAHIM TRAORÉ
Em 9 de maio de 2025, o líder revolucionário de Burkina Faso, Capitão Ibrahim Traoré, esteve entre dignitários internacionais no desfile do Dia da Vitória em Moscou, comemorando a derrota do nazismo pela União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Sua presença foi mais do que uma mera cerimônia: foi uma declaração geopolítica ousada. Para a África, marcou uma ruptura decisiva com a dominação ocidental. Para o mundo, destacou o papel crescente da Rússia no desafio à hegemonia ocidental e na promoção de uma ordem multipolar.

Uma rejeição do neocolonialismo

O capitão Traoré, que chegou ao poder em 2022 após uma revolta popular contra as elites pró-França, representa a nova onda de liderança anti-imperialista na África.

LÍDERES QUE ACUDIRÁN AL DESFILE DE LA VICTORIA EN MOSCÚ EL PRÓXIMO 9 DE MAYO

🇸🇰 Primeiro Ministro da Eslováquia, Robert Fico
🇷🇸 Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic
🇧🇷 Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva
🇰🇿 Presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev
🇵🇸 Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas
🇨🇳 Presidente da China, Xi Jinping
🇮🇳 Primeiro Ministro da Índia, Narendra Modi
🇧🇾 Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko
🇦🇲 Primeiro Ministro da Armênia, Nikol Pashinyan
🇹🇯 Presidente do Tayikistán, Emomali Rahmon
🇨🇺 Presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel
🇷🇸 Presidente da República Srpska, Milorad Dodik
🇻🇳 Secretário Geral do Comité Central do Partido Comunista do Vietnã, To Lam
🇧🇫 Presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré
🇰🇬 Presidente do Quirguistão, Sadyr Japarov
🇺🇿 Presidente do Uzbequistão, Shavkat Mirziyoyev
🇻🇪 Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
Discurso impressionante de Ibrahim Traoré na ONU

Caros delegados, chefes de Estado, líderes de nações, respeitados representantes de nações grandes e pequenas, não os saúdo como um diplomata de carreira ou como um homem criado para salões de banquetes e apertos de mão. Não venho falar com vocês na linguagem rebuscada da política refinada. Venho a vocês como um soldado do meu povo, como um guardião de um país ferido, como um filho de um continente que carregou a cruz do mundo, mas nunca a sua coroa.

Meu nome é Capitão Ibrahim Traoré, Presidente de Burkina Faso. Hoje falo não apenas em nome dos 22 milhões de habitantes do meu país, mas também em nome de um continente cujas histórias foram distorcidas, cuja dor foi ignorada e cuja dignidade foi repetidamente vendida no altar de interesses estrangeiros.

A África não é uma mendiga. A África não é um campo de batalha. A África não é sua cobaia, seu fantoche, seu depósito de matérias-primas. A África não se levanta para se ajoelhar, mas para se levantar. Mesmo hoje, diante desta grande assembleia de nações, eu digo: a África não se ajoelhará.

1. Sobre a falsa generosidade da política global

Por décadas, vocês nos ajudaram com uma mão, enquanto sugavam nosso sangue com a outra. Construíram poços em nossas aldeias, enquanto suas corporações secavam nossos rios. Doam vacinas, mas patenteiam medicamentos. Falam sobre ação climática, mas continuam financiando aqueles que queimam nossas florestas e drenam nossos lagos.

Que tipo de generosidade é essa? O tipo que alimenta suas bocas, mas abafa suas vozes. O tipo que mantém uma pessoa viva o suficiente para permanecer dependente. Não somos cegos a essa hipocrisia. Sejamos claros: não somos ingratos por ajuda humanitária sincera, mas rejeitamos uma ordem mundial que disfarça exploração de parceria. Rejeitamos instituições financeiras que dão com uma mão e se apoderam da soberania com a outra.

A África não quer mais misericórdia — queremos justiça. Queremos controle sobre o nosso próprio destino.

2. Sobre as cadeias coloniais e seus sucessores modernos

Nossas feridas não começaram conosco. Elas são o legado de uma loucura imperial que nos via não como pessoas, mas como carga barata, como mão de obra. Meus ancestrais não foram questionados quando mapas foram desenhados com réguas e compassos em Berlim. As fronteiras de Burkina Faso, como muitos países africanos, não foram formadas por nossos ancestrais, mas por pessoas que nunca pisaram em nosso solo, que nada sabiam sobre nossas línguas, tribos ou espíritos.
Hoje, o colonialismo tem uma nova face: veste ternos, organiza fóruns, assina tratados em Genebra, Paris e Washington. Mas continua a tomar sem consentimento, continua a comandar em vez de dialogar, continua a silenciar em vez de ouvir. Se você quer falar de paz, comecemos por rejeitar a arrogância da ideia de que só você pode ensinar a paz.

3. Sobre a exploração dos recursos e o mito do desenvolvimento
Vocês nos chamam de "países em desenvolvimento" — como se séculos de roubo não tivessem nos atrasado, como se o ouro em nossas terras, os diamantes em nossos rios, o petróleo sob nossos pés não tivessem construído os arranha-céus onde esta assembleia agora se reúne.

Sejamos claros: Burkina Faso é rico. A África é rica em minerais, cultura, sabedoria e juventude. Mas vocês nos ensinaram a medir a riqueza pelo PIB e pelas exportações. É isso que vocês chamam de desenvolvimento quando uma empresa estrangeira detém 90% das minas de ouro do nosso país. Vocês chamam de progresso quando suas forças de segurança guardam as minas de cobalto, mas não as escolas para as nossas crianças. Isso não é progresso, é pirataria de documentos legais.
De agora em diante, definiremos desenvolvimento com nossas próprias palavras — desenvolvimento que coloca crianças em salas de aula, não minerais em navios. Desenvolvimento que respeita a terra, o povo e a alma da nação.

4. Sobre soberania e interferência

Por que você nos chama de instáveis ​​quando algum país africano toma decisões independentes? Por que você chama de ameaça quando pedimos cooperação militar fora da esfera colonial?
Burkina Faso decidiu seguir o caminho da soberania.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

PENSAMENTO MONETARISTA * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO MONETARISTA
 A América Latina No Olho Do Furacão 
ROBERTO BERGOCI/SP

O agravamento da crise orgânica do capital na raiz da nova onda golpista em nosso continente.

A América Latina no olho do furacão: o agravamento da crise orgânica do capital na raiz da nova onda golpista em nosso continente.

Toda análise mais profunda, que envolva a totalidade do modo de produção capitalista, tem chegado a conclusões de que, tal regime entrou num longo período de declínio, crises constantes e regresso civilizacional. A crise profunda que hora vivenciamos na América Latina é um momento dessa totalidade, manifesta em uma de suas cadeias mais débeis, que é justamente o capitalismo dependente. Sem uma compreensão desse fenômeno em seu conjunto, fica impossível entendermos o que de fato nos atinge em Nossa América.

A crise contemporânea que abala a sociedade burguesa em seu conjunto, possuí um caráter dialético, pluri causal, como nos ensina Marx em seus três livros que compõem O Capital: neste processo, vemos a combinação e ação recíproca influir uns sobre os outros, os problemas estruturais que envolvem o modo de produção capitalista, como superprodução, queda das taxas de lucro, sobreacumulação, financeirização, etc; em suma, a manifestação da crise de valorização do capital em sua organicidade. Este processo se torna ainda mais dramático, sobretudo pelo fato de que, uma das características do capitalismo atual é ter entrado numa fase de completo amadurecimento e mundialização, onde deslocou já para quase toda parte do globo terrestre suas contradições, como já teorizado por Rosa Luxemburgo em seu importante livro “Acumulação de Capital”.

Na verdade, como disse o economista marxista Robert Kurz em um de seus escritos: “Desde meados dos anos 1970 se multiplicam os sinais de uma séria crise da reprodução do sistema mundial produtor de mercadorias. Taxas declinantes ou estagnadas; desemprego em massa e ‘estrutural’ crescentemente desacoplado dos ciclos conjunturais tanto nos países desenvolvidos da OCDE quanto na periferia do mercado mundial [...] Tudo isso, por sua vez, é superposto pela cada vez mais ameaçadora crise do ecossistema em escala planetária: do “buraco na camada de ozônio” à destruição das florestas tropicais da África e da Amazônia, da propagação das zonas desérticas à contaminação das cadeias alimentares, da destruição dos sistemas ecológicos internos como os do Mar do Norte, dos Alpes e do Mar Mediterrâneo até a irreversível contaminação dos solos e da água potável etc.” (Robert Kurz, “A Crise do Valor de Troca”). Dessa forma, em concordância com outros importantes autores marxistas da contemporaneidade, podemos perceber que a atual crise, ao contrário das anteriores correspondentes ao capitalismo em sua fase de ascenso, atinge a totalidade do regime burguês.

O pensador revolucionário István Mészáros ensina que: “[...] a crise do capital que experimentamos hoje é fundamentalmente uma crise estrutural. Assim, não há nada especial em associar-se capital a crise. Pelo contrário, crises de intensidade e duração variadas são o modo natural de existência do capital: são maneiras de progredir para além de suas barreiras imediatas e, desse modo, estender com dinamismo cruel sua esfera de operação e dominação.”(István Mészáros, “Para além do Capital”). E um pouco mais à frente Mészáros explicita a singularidade da atual crise que, segundo ele, possui um caráter universalizante, atingindo todas as esferas da reprodução social.

Pedindo já perdão ao leitor pelas longas citações-- que ao nosso juízo são essenciais para uma melhor compreensão do que ocorre na América Latina, tema de nosso texto-- segue Mészáros: “A novidade histórica da crise de hoje torna-se manifesta em quatro aspectos principais:

(1) Seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfera particular (por exemplo, financeira ou comercial, ou afetando este ou aquele ramo particular de produção[...];

(2) Seu alcance é verdadeiramente global (no sentido mais literal e ameaçador do termo), em lugar de limitado a um conjunto particular de países (como foram todas as principais crises do passado);

(3) Sua escala de tempo é extensa, continua, se preferir, permanente, em lugar de limitada e cíclica, como foram todas as crises anteriores do capital;

(4) Em contraste com as erupções e os colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado, seu modo de se desdobrar poderia ser chamado de rastejante, desde que acrescentemos a ressalva de que nem sequer as convulsões mais veementes ou violentas poderiam ser excluídas no que se refere ao futuro: a saber, quando a complexa maquinaria agora ativamente empenhada na ‘administração da crise’ e no ‘deslocamento’ mais ou menos temporário das crescentes contradições perder sua energia.”(Idem).

Pensamos que no geral, este seja o caldo de cultura do atual período de instabilidade e golpes de Estado envolvendo praticamente todos os países latinoamericanos. Isso não exclui, pelo contrário, se combina dialeticamente com as características próprias dos países em nosso continente, marcados pela dependência e subdesenvolvimento, tornando dessa forma os efeitos da crise orgânica do capitalismo mundial muito mais perversos em nossa Grande pátria.

Instabilidade, golpes e geopolítica do caos: a América Latina e o imperialismo diante da crise estrutural

Nesta nova etapa do capitalismo mundial, marcado pela hegemonia do capital financeiro fictício, o padrão de acumulação que caracteriza os países latinoamericanos é justamente o neoliberalismo. O padrão de acumulação neoliberal é em si, a expressão da crise da produção de mais-valia, como consequência dos processos de intensificação da automação industrial poupadora de trabalho vivo, humano, o que Marx conceitualizou como o aumento da composição orgânica do capital.

O regime neoliberal de acumulação trás em seu bojo, o incrível incremento da superexploração dos trabalhadores, desemprego crônico, recrudescimento da transferência de valor e de riquezas dos países dependentes para as metrópoles imperialistas, pauperismo absoluto das massas trabalhadoras e das classes médias, intensificação da marginalização e “lupenização” de vasta parcela das massas populares e etc.

A América Latina vive entre os fins dos anos 1980 e inicio dos anos 1990, sua primeira onda neoliberal. Na época, o continente estava marcado pela crise da divida, fuga de capitais, desinvestimentos, grande estagnação econômica e etc. O imperialismo estadunidense e toda gangue representante do grande capital financeiro internacional e sua imprensa, aliados das oligarquias latinoamericas, viam sérios riscos quanto às suas condições de lucros e espólio. Nascia assim o famigerado Consenso de Washington, pilar da generalização neoliberal-neocolonial em nossa região.

Este período se caracteriza entre outras coisas pelo assalto descarado aos ativos estatais por parte das multinacionais, através das privatizações. Boa parte das conquistas sócias foram destruídas pela via das “reformas estruturais”: trabalhistas, previdenciárias, etc. Saindo dos sanguinários regimes militares, o continente foi dominado pela ditadura do “deus” mercado, onde nossos povos eram literalmente imolados nesse altar da barbárie.

Não tardou para que as revoltas operárias e populares colocassem um duro freio a esse genocídio social. Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador entre outros países, foram sacudidos por verdadeiros processos de insurreições e\ou explosões sociais, derrotando duramente os governos títeres da Casa Branca. Na sequencia, o continente hegemonizado politicamente pelos governos nacionalistas burgueses, colocaram certo freio nas políticas neoliberais. O crescimento da economia mundial no período, sobretudo a ascensão da China como importante ator e importador de matérias primas, estimulou a valorização dos produtos agrominerais, importante base de exportação de nossas economias dependentes.

Tal conjuntura “favorável”, permitiu relativa melhora nas contas externas de nossos países, transformados em importantes concessões aos povos trabalhadores e a pequena burguesia. No entanto, os pilares da dependência e do subdesenvolvimento jamais foram tocados pelos chamados governos “progressistas”. A submissão aos imperativos da divisão mundial do trabalho, a superexploração da força de trabalho, a crônica transferência de valor e riqueza para os países imperialistas não foram revertidos, apenas “aliviados”. Em suma, as relações de exploração e opressão se mantiveram com algum freio, mas em essência continuamos sendo países dependentes.

A América do Sul em particular, se distanciou relativamente do Consenso de Washington, criando a ALBA, ou fortalecendo outros fóruns de integração regional como o Mercosul. Além disso, houve no período uma importante aproximação de países adversários dos EUA no âmbito geopolítico como Rússia e China, além da constituição dos BRICS e sua relação com a América Latina, que na prática, embora sua moderação, afrontava na região a odiosa hegemonia da Casa Branca.

De forma muito sumária, podemos afirmar que tais fatores, conjugados com a explosão em 2007-2008 de mais um momento da crise estrutural do capitalismo mundial, foram determinantes para por fim ao período que se inicia no começo dos anos 2000 em nosso continente, abrindo assim as condições objetivas para a atual quadra de barbárie em nossos países.

O neocolonialismo imperialista e o Ascenso do fascismo

A América Latina vive atualmente um período de grande turbulência e caos econômico, político e social. A intensificação da crise mundial capitalista é a base do recrudescimento de todas as contradições que envolvem o capitalismo dependente.

A burguesia imperialista e seus sócios menores na America latina tem levado adiante, como resposta à crise, uma verdadeira reestruturação do capitalismo em nosso continente: as formas políticas e jurídicas sustentáculos dos regimes políticos, estão sendo transformadas, “adaptadas” dialeticamente às novas necessidades de acumulação. Podemos dizer que um “novo” patamar de acumulação, baseado num grau muito mais intenso de superexploração e dominação neocolonial, esta sendo gestado em toda a América Latina.

Fatores geopolíticos de primeira ordem também influem neste processo. A esse respeito, o imperialismo leva adiante uma verdadeira batalha de vida ou morte para minar a influencia de Rússia e China na região e estabelecer sua “nova” doutrina Monroe, através da dominação do Spectro Total, como dizia Moniz Bandeira . A luta pela sua hegemonia incontestável, pelo controle ferrenho de fontes de matéria prima e energéticos no continente, além da dominação de importantes reservatórios de água potável, são a base da atual ofensiva imperialista contra a América latina.

Semelhanças com o que fizeram no Oriente Médio não é mera coincidência: Washington tenciona trazer o caos planejado para a nossa região, através das chamadas “guerras hibridas”, ou seja, a intensificação de conflitos irregulares e indiretos, como tem demonstrado o importante estrategista Andrew Korybko. O papel desempenhado por exemplo, das igrejas neopentecostais nos atuais golpes de Estado no continente, em muito se assemelham as atuações fundamentalistas dos wahabitas sunitas islâmicos no Oriente Médio.

A militarização da região e o ascenso de agrupamentos fascistas tem sido outro instrumento mobilizado pela Cia e Mossad atualmente. Para levar adiante a espoliação radical de nossos povos, o grande capital imperialista tem de lançar mão de seu reservatório fascista contra as organizações de luta da classe trabalhadora e quebrar a resistência das massas.

A política de roubo e pilhagens do capital financeiro atualmente na America latina, somente pode ser conseguido até suas últimas consequências, através do terrorismo de Estado. O narco Estado colombiano é um modelo que os imperialistas planejam generalizar. O crescimento das milícias bolsonaristas no Brasil, suas relações com o narcotráfico, com as Policias Militares e com o alto Comando das Forças Armadas é sintomático disso. As repressões selvagens contra as massas no Chile e na Bolívia pelos golpistas fascistas, também são exemplos do que pode se generalizar no continente, tendo como caldo de cultura a intensificação da crise de dominação burguesa.

A América Latina Resiste!

Os povos latinoamericanos resistem bravamente aos bárbaros ataques das burguesias nativas e do imperialismo. Os trabalhadores chilenos são um exemplo a ser seguido por nossos povos. O recrudescimento das mobilizações contra o carniceiro Sebastian Piñera tem colocado a burguesia pinochetista chilena contra a parede e promovido uma verdadeira crise de dominação no país.

O povo boliviano, como em outros momentos históricos se levanta contra o golpismo em seu país. Os golpistas lupens, verdadeiros peões da Casa Branca, Jenine Áñez, “Macho” Camacho e toda a quadrilha que usurparam o governo boliviano tem de promover um genocídio de fato contra as massas, para garantir o roubo mais vil à nação em favor do capital estrangeiro.

Equador, Haiti e Argentina, dão mostras das tendências revolucionárias do povo latinoamericano no próximo período.

No Brasil, a classe trabalhadora deste país precisa entrar em cena e por abaixo a gerencia entreguista do bandido miliciano Jair Bolsonaro. Os trabalhadores brasileiros podem desestabilizar o jogo de forças na região e arrastar a America latina para um grande ascenso antiimperialista revolucionário; para isso precisam romper a camisa de força de suas direções hegemônicas, comprometidas com a estabilidade do regime burguês decadente.

De qualquer forma, não há no próximo período, qualquer sinal de recuperação consistente da economia capitalista. Pelo contrário, o que se vê no horizonte é o aprofundamento da crise estrutural e das consequentes turbulências políticas, que podem de fato generalizar na América Latina, a crise de dominação das burguesias nativas, fator que põe na ordem do dia a luta anti imperialista e a revolução socialista continental, em direção a Grande Pátria Latinoamerica Socialista!

Em artigo anterior, mostrou-se que o tarifaço do presidente Donald Trump é um meio para salvar o estatuto internacional do dólar. Com efeito, “salvar o dólar” consistiria em salvar também os superpoderes da “hiperpotência” americana. Isso implica em dizer que o dólar se assenta em bases monetárias e não-monetárias; que, além do seu poder monetário, “outros” poderes de atores e fatores (tais como os do petróleo, FMI, Banco Mundial, BRI, OCDE, OMC, Wall Street etc.) agregam-lhe novos “poderes”.

Sobre o poder do dinheiro, James Carville, estrategista-chefe da campanha eleitoral que elegeu Bill Clinton presidente dos Estados-Unidos, sustenta — com humor — que ele impõe restrições à ação política. Dizia ele: “Antigamente eu achava que, se houvesse reencarnação, eu iria querer voltar como presidente, papa ou craque do beisebol”. Após convivência no ambiente presidencial, acrescenta: “Mas, agora, prefiro voltar como mercado financeiro. Você intimida qualquer um”1. Esses atores participam — e muito — na manutenção do estatuto internacional do dólar; e a fragilidade da economia americana não o afeta em quase nada2. Com efeito, note-se que em 1950 os EUA detinham 62% da produção industrial mundial, contra apenas 18% em 2025. Nesse período, os 80% de divisas mundiais que eram mantidas em dólar passam para 60%, enquanto os fluxos comerciais transnacionais em dólar vão de 70% a 45%. Registra-se, pois, um declínio relativo, mas o dólar continua proeminente.

Daí, se coloca a questão de saber em que consistem os mecanismos que fazem do dólar um ator político. Para sabê-lo, enfoca-se, inicialmente, o contexto monetário que gerou a “cria” e, num segundo momento, esmiuçam-se as bases que sustentam o dólar e seus “poderes”.

Contexto monetário

Antes da Primeira Guerra, até 1914, o ouro teve um papel de referência durante décadas (período conhecido como a era-ouro). O ouro então deixou de ser referência, porque os Estados Nacionais precisaram rodar suas máquinas de impressão de dinheiro para financiar os esforços de guerra. Isso fez com que a quantidade de ouro se tornasse insuficiente perante a quantidade de dinheiro fabricado3. Esse processo atravessa diversas situações. Quais sejam:

A Guerra 1914-1918 ou a primeira expansão monetária: todos os beligerantes, quer dizer, os aliados do Reich e os contrários, financiaram seus esforços de guerra com empréstimos realizados junto aos próprios bancos centrais, o que gerou inflação elevada. Por outro lado, enquanto a Europa se defrontava com essa Guerra, um evento monetário, com consequências globais inéditas em toda a história mundial, acontecia nos EUA: no dia 23 de dezembro de 1913, registrou-se a constituição do Federal Reserve (FED).

A Conferência de 1922 e a Crise de 1929: a primeira teve por objetivo examinar as “reparações de guerra” impostas à Alemanha vencida, e gerou hiperinflação; enquanto a segunda gerou um “crash” de repercussão mundial, com perdas drásticas das moedas. O dólar de hoje representa menos de 1% do seu valor em 1914.

A Guerra 1939-1945 ou a entrada do dólar na cena internacional: é aí que os EUA se tornam a nova liderança mundial na área industrial. O país fornece bens e serviços aos beligerantes, com pagamento em ouro. Acrescente-se a esse montante as 30.000 toneladas de ouro alemãs que foram posteriormente tomadas como butim de guerra. Tudo isso fez com que cerca de 80% do ouro dos demais bancos centrais passasse para as mãos do FED. Emerge, aí, o reinado do dólar, moeda essa que foi considerada “tão boa quanto o ouro”.

O dia 15 de agosto de 1971: diante da quantidade de ouro insuficiente nos cofres do FED para atender a tantas demandas de convertibilidade de dólares em ouro, o Presidente Richard Nixon decidiu, unilateralmente, decretar a inconversibilidade do dólar em ouro. Essa decisão significava que o dólar não era mais convertível em ouro, e que não era mais garantido pelo Estado. Houve um “golpe de Estado monetário”. Uma desconsideração com o “resto do mundo”. Inúmeras razões apontam nessa direção: os EUA decidiram sozinhos mudar as regras do sistema monetário internacional; romperam contrato com “o resto do mundo” unilateralmente ao saírem do campo do Direito para o da força.

O ano de 1973: quando ocorreu um aumento do preço de petróleo, resultando em transferência de recursos fantásticos para os países produtores. Essa transferência, contudo, deixou os EUA com receio de que seus aliados — maiores players internacionais de commodities, em especial do petróleo — pudessem renunciar ao uso do dólar nas transações internacionais. Nesse sentido, foi assinado um acordo com a Arábia Saudita para que todas as suas vendas de petróleo fossem faturadas exclusivamente em dólares. Isso daria lastro real ao dólar para manter seu estatuto internacional. Por outro lado, desde a inconversibilidade do dólar em ouro, está-se vivendo no “não sistema” monetário internacional.

O período 2007-2010: socorro aos bancos para evitar a tal “crise sistêmica” do setor financeiro nos EUA. No caso, houve, literalmente, transferência de valor do setor público ao setor privado. Por outro lado, houve pressões dos EUA sobre a Europa para que elaborasse programas de socorro aos bancos seguindo o “modelito” americano. Entende-se que tudo isso foi feito com a clara evidência de manter o status quo do sistema monetário e financeiro internacional, ou seja, manter a hegemonia internacional do dólar.

É preciso ainda explicitar quais atores e fatores foram mobilizados para a manutenção do dólar. Vejam-se as Bases de apoio ao dólar. Essas bases são diversas e múltiplas. Eis algumas delas:

Criação monetária: Um banco central tem por função ser um serviço público que cumpre o papel de criação monetária, ou seja, atua criando papel-moeda e moeda fiduciária ou eletrônica, moedas essas que são colocadas à disposição do Estado para garantir o bom funcionamento da sua economia. No caso dos EUA, tem-se o FED, que recebeu do governo a incumbência e o poder de criar moeda e vendê-la ao Estado cobrando-lhe juros. Estes representam um “imposto” que a nação paga ao FED para imprimir dinheiro. Esse ente, por sua vez, fixa a taxa de juro, ou seja, o preço da venda do dólar. Quanto maior for a taxa de juros, mais o Estado se endivida e mais o FED e bancos comerciais se enriquecem. Essa operação denomina-se empréstimo (dita também de moeda-crédito). Esse empréstimo exige juros, desembocando no pagamento anual do denominado juro da dívida (dito também serviço da dívida). Este é, na verdade, um tributo pago pelas populações dos EUA e do resto do mundo. Com uma dívida em trilhões, tem-se montantes de juros em bilhões!

Criação dos petrodólares: Na crise do petróleo de 1973, uma massa fenomenal de recursos é transferida aos países da OPEP. Diante disso, o Estado americano ficou receoso de perder o estatuto internacional do dólar, pois não seria viável obrigar todos os países a seguirem as decisões americanas. Foi aí que se escolheu, estrategicamente, o petróleo para que sua comercialização fosse sempre feita em dólar. A escolha não foi feita à toa, até porque o petróleo não é uma commodity qualquer. Tratou-se de uma decisão da maior importância econômica para os EUA, porque o petróleo passou a ser referência real e valiosa para o dólar; referência muito mais importante do que o ouro ou qualquer commodity. Qualquer país que não tenha petróleo (e são mais de 90% dos países do mundo) precisa comprá-lo em dólar. E para ter dólares — já que não pode fabricá-los — vai ser preciso exportar bens e serviços reais, pagos nessa moeda. Por outro lado, os EUA se abastecem de petróleo com papel fabricado à vontade. Tal é a “grandiosa contribuição” econômica, política e estratégica que os países produtores oferecem aos EUA. Essa contribuição ajuda a manter o dólar como moeda hegemônica. Isso beneficia os EUA, porque podem receber o petróleo com a dispensa de produzir bens e serviços para serem trocados pelo petróleo; e os produtores de petróleo transformam seus recursos em compra de títulos do tesouro, pois têm capacidade limitada de gastos. Eis os porquês de o dólar ter recebido um apoio e tanto para sustentar seu estatuto.

Concluindo

Desde o pós-guerra, o dólar é a moeda de reserva universal, isto é, aquela que é a mais acumulada (no sentido contábil e não físico) por bancos centrais do mundo inteiro. Já os EUA a emprestam para o mundo inteiro, sem deter estoque de divisas de outros países. Não precisam ser concorrentes em termos de taxa de juros para atrair capitais internacionais. E, paradoxalmente: quanto mais dólares são detidos pelo país estrangeiro, mais ele deve fornecer bens e serviços reais aos EUA pelo montante de dólares acumulado. Sua dívida externa é cotada em dólar, ou seja, na sua moeda nacional; por isso, os EUA não têm propriamente dívida, mas sim “quase dívida” — ou seja, seu “endividamento” é elástico, para não dizer ad infinitum! Esse “endividamento” cresce no “papel”. Gera mais déficit na balança de pagamento. E há mais e mais déficits porque os EUA importam mais bens e serviços do que exportam. O déficit anual é fenomenal. Por outro lado, montanhas (no sentido contábil) de dólares acumulam-se em bancos centrais do mundo inteiro, e nenhum deles pede a conversão em ouro ou em outras divisas. Sem essa demanda de conversão por parte do estrangeiro, o dólar faz ofício de moeda de reserva. Dentro dessa perspectiva, o Estado americano desfruta da confiança e do crédito das elites do mundo inteiro. Isto acontece, reitere-se, porque suas instituições internacionais referidas trabalham, articuladamente, em prol do dólar.

Em suma, verifica-se que o dólar é mais do que moeda por ser um ator político. Ele agrega, em cima da sua força monetária, as forças do aparato governamental americano e as das forças de nações e firmar aliadas, sejam elas grandes ou pequenas. Em suma, o dólar é ajudado por “n” atores e fatores; que recebem como recompensa a “Paz do Dólar”. Sustenta regimes políticos, garante estabilidade, cria espaço seguro de rentabilidade, mas também pune desobedientes, firmas e nações, entre outros. Eis alguns dos elementos que fazem do dólar um ator político e, enquanto tal, detentor de poder político. E que poder!

A importância econômica do poder do dólar expressa-se, pois, sob formas diversas: venda de títulos do tesouro, empréstimos, posição externa (i.e., a diferença entre os investimentos entrando e saindo…). Esse último ponto é apreciado pelo ex-presidente do FED, Alan Greenspan, nestes termos: “[…] a taxa de retorno de mais de US$ 2 trilhões de investimentos diretos dos EUA no exterior era de 11% em 2005, muito abaixo dos juros pagos aos estrangeiros sobre a dívida americana”4. A taxa paga pelos títulos do tesouro americano variava então entre 5 e 6% anuais, o que permitiu, com efeito, o revigoramento do dólar como moeda internacional hegemônica, com especial destaque para o direito de seigniorage5 e a reciclagem dos petrodólares. Com esse expediente, explica David Harvey, os EUA ficaram com “[…] o privilégio monopolista de reciclar petrodólares na economia mundial, trazendo de volta para casa o mercado do eurodólar. Nova York tornou-se o centro financeiro da economia global, o que, associado à desregulação interna dos mercados financeiros, permitiu que a cidade se recuperasse de sua crise e florescesse até o ponto da incrível opulência e do consumo ostensivo da década de 1990”6.

Eis, em suma, alguns dos mecanismos que serviram para “construir” o dólar como poder político.

Notas:Felix Martin. Dinheiro. Bibliografia não autorizada. Portfolio Penguin. 2016, p.141 ↩︎
Ver: Rabah Benakouche. Moeda é poder. Por que constitui questão de Estado? Appris Editora, 2018. ↩︎
Michael Hudson. Super Imperialism. The origin and fundamentals of U.S. World. Pluto Press, 2003. ↩︎
Alan Greenspan. A Era da Turbulência. Rio de Janeiro: Campus, 2007, p. 340. ↩︎
Ou direito de senhoriagem, que é o lucro obtido da diferença entre o material usado para cunhar moeda e o valor de face da moeda criada. ↩︎
David Harley. Novo imperialismo. Rio de Janeiro: Loyola, 2004. p. 57-8. ↩︎

sábado, 31 de maio de 2025

PENSAMENTO VINCENT VAN GOGH * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO VINCENT VAN GOGH
Biografia

Van Gogh (1853 - 1890)

Vincent van Gogh é um dos artistas mais famosos e influentes da história da arte. Nascido em 1853 na Holanda, ele foi um pintor pós-impressionista conhecido por suas cores vibrantes, pinceladas expressivas e estilo único. Sua obra é considerada uma das mais importantes do século XIX e ele é frequentemente citado como um dos pioneiros da arte moderna.

A vida de Van Gogh foi marcada por tragédias pessoais e instabilidade mental, e ele nunca viveu para ver o sucesso de sua obra. Ele cresceu em uma família de classe média na cidade de Zundert, onde seu pai era um pastor calvinista. Van Gogh foi educado em escolas religiosas e depois trabalhou como vendedor de arte e professor de inglês na Inglaterra e na França antes de decidir se dedicar à pintura.

Ele começou a estudar arte em 1880, aos 27 anos, em Bruxelas. Seu irmão, Theo, era um negociante de arte e foi seu principal apoiador financeiro ao longo de sua carreira. Van Gogh estudou com artistas impressionistas, como Anton Mauve e Fernand Cormon, e começou a experimentar seu próprio estilo de pintura. Ele passou um tempo em Paris, onde conheceu artistas como Paul Gauguin e Henri de Toulouse-Lautrec, e ficou fascinado pela arte japonesa e pela teoria das cores.

Em 1886, Van Gogh mudou-se para Paris para trabalhar com seu irmão na Galeria Goupil. Lá, ele conheceu artistas como Paul Signac e Georges Seurat, que estavam explorando novas teorias de cor e técnica. Ele começou a experimentar com cores mais vibrantes e pinceladas mais ousadas, e desenvolveu seu próprio estilo único de pintura.

Em 1888, Van Gogh mudou-se para a cidade de Arles, no sul da França, onde planejava fundar um ateliê de arte. Ele se instalou em uma pequena casa amarela que se tornaria famosa por suas pinturas, incluindo a série de girassóis. Durante seu tempo em Arles, Van Gogh produziu algumas de suas obras mais conhecidas, incluindo Noite Estrelada, A Casa Amarela e Os Girassóis.

No entanto, a saúde mental de Van Gogh começou a se deteriorar rapidamente. Ele sofreu uma crise nervosa em dezembro de 1888 e cortou parte de sua orelha esquerda. Ele foi hospitalizado e depois passou algum tempo em uma casa de saúde em Saint-Rémy-de-Provence, onde pintou muitas obras, incluindo A Irmandade dos Homens.

Em 1890, Van Gogh mudou-se para a cidade de Auvers-sur-Oise, perto de Paris, para estar mais perto de seu irmão Theo. Ele continuou a pintar, mas sua saúde mental continuou a piorar. Em julho de 1890, ele se suicidou com um tiro no peito. Ele tinha apenas 37 anos de idade.

Embora Van Gogh tenha morrido em relativa obscuridade, seu trabalho foi redescoberto e reconhecido após sua morte. Hoje, suas pinturas são algumas das mais valiosas e reconhecidas do mundo da arte. Sua obra influenciou inúmeros artistas posteriores e continua a ser estudada e apreciada em todo o mundo.

Van Gogh deixou um legado de mais de 2.000 obras de arte, incluindo pinturas, desenhos e aquarelas. Sua arte era influenciada por sua paixão pela natureza, sua espiritualidade e sua busca pela verdade. Ele trabalhou incansavelmente em sua arte, muitas vezes pintando várias obras em um único dia.

Apesar de sua curta carreira artística, Van Gogh foi um inovador que mudou a forma como a arte era vista e feita. Ele abandonou as técnicas tradicionais de pintura e desenvolveu um estilo único que combinava pinceladas fortes, cores ousadas e uma sensibilidade emocional. Sua obra foi uma inspiração para muitos outros artistas modernos e sua influência pode ser vista em várias correntes artísticas, como o expressionismo, o fauvismo e o surrealismo.

Van Gogh é conhecido por sua intensidade emocional e por expressar suas emoções em suas pinturas. Seus trabalhos são frequentemente descritos como melancólicos, dramáticos e carregados de emoção. Ele acreditava que a arte tinha o poder de tocar as pessoas e de transmitir emoções profundas. Suas obras muitas vezes retratavam pessoas e lugares comuns, como camponeses e paisagens rurais, mas ele os transformou em imagens vibrantes e cheias de vida.

A história de Van Gogh é também uma história de luta contra a adversidade. Ele sofreu com a pobreza, a rejeição e a instabilidade mental durante toda a sua vida. Sua arte era uma maneira de escapar dessas dificuldades e encontrar um sentido de propósito e significado. Embora tenha sido mal compreendido e subestimado em sua época, Van Gogh deixou um legado duradouro que continua a inspirar artistas e amantes da arte em
todo o mundo.
MUSEU VINCENT VAN GOGH
VIDA E OBRA
Vila Educativa

terça-feira, 20 de maio de 2025

PENSAMENTO REVOLUÇÕES AFRICANAS * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PENSAMENTO REVOLUÇÕES AFRICANAS
A Luta de Classes em África
Kwame Nkrumah
Conclusão

A revolução africana, ao concentrar-se na destruição do imperialismo, do colonialismo e do neocolonialismo, visa realizar uma transformação completa da sociedade. Já não se trata, para os Estados africanos, de escolher um modo de produção capitalista ou não capitalista, porque a escolha já foi feita pelos trabalhadores africanos: a libertação e unidade do continente, que apenas a luta armada para o socialismo realizará. Porque a unidade política de África só se poderá realizar no socialismo.

«Capitalismo popular», «capitalismo esclarecido», «paz entre as classes», «harmonia social», tudo isso corresponde a tentativas falaciosas e burguesas de alienar as massas. Alguns sugerem uma via «não capitalista» seguida de uma «união das forças progressistas»; ora um tal sistema não pode convir à África dos tempos modernos. Porque os Estados africanos não podem escolher entre uma ou outra destas possibilidades: regressar à dominação imperialista pelo capitalismo e neocolonialismo, ou adoptar os princípios do socialismo científico. Seria falso pretender que a instauração de um regime socialista não é possível nos países pouco industrializados, onde um proletariado forte é ainda pouco numeroso. A história provou que um proletariado relativamente pouco numeroso, bem organizado e dirigido, pode levar as massas camponesas a tomar consciência e a fazer rebentar uma revolução. Numa situação neocolonialista, não pode haver compromissos; apenas o socialismo pode pôr fim à exploração capitalista-imperialista.

O socialismo só será realizado através da luta de classes. Em África, o inimigo interno, que é a burguesia reaccionária, deve ser desmascarado: trata-se de uma classe de exploradores, de parasitas e de colaboradores de imperialistas e neocolonialistas, dos quais depende a manutenção das suas posições privilegiadas. A burguesia africana é essencial à continuidade da dominação e da exploração imperialista e neocolonialista. Perante a necessidade da sua eliminação, um partido revolucionário socialista de vanguarda organizará e enquadrará a solidariedade operária-camponesa. Graças à derrota da burguesia indígena, do imperialismo, do neocolonialismo e dos inimigos exteriores da revolução africana, as aspirações do povo africano serão realizadas.

Como nas outras regiões do Mundo em que a revolução socialista está bastante dependente das massas camponesas, os quadros da revolução africana vêem-se perante uma tarefa gigantesca: têm de conquistar o proletariado urbano e rural para a revolução e alargá-la até aos campos; é então que os combatentes da liberdade — de quem depende muito a revolução na sua fase armada — poderão desenvolver e alargar as suas áreas de operações. Ao mesmo tempo, é necessário politizar os dois principais pilares do poder burguês — a burocracia e a polícia e exército.

A vitória das forças revolucionárias depende da habilidade do partido revolucionário socialista em fixar a importância das classes sociais e em distinguir os aliados e os inimigos da revolução. O partido deve também estar à altura de mobilizar e dirigir o conjunto das forças para a revolução socialista já existente, e despertar e estimular o imenso potencial revolucionário ainda por explorar.

Enquanto a violência for utilizada contra os povos africanos, o partido não alcançará os seus objectivos sem utilizar todas as formas de luta política, inclusivamente a luta armada. Se a luta armada deve ser empreendida de modo eficaz, deve — tal como o partido — ser centralizada. Um alto Estado-Maior Pan-Africano, enquadrado por um partido operário pan-africano, deveria poder planificar uma estratégia e uma táctica unificadas, atacando assim mortalmente o imperialismo, o colonialismo e o neocolonialismo, assim como os regimes minoritários europeus em África.

A resistência armada não é um fenómeno novo para a África: durante séculos os Africanos lutaram contra o intruso colonialista, se bem que esses combates heróicos tenham sido votados ao silêncio por historiadores estrangeiros e burgueses. Na realidade, os Africanos nunca cessaram de resistir à penetração e à dominação imperialista, mesmo quando essa resistência se tornou não violenta à medida que a opressão e a exploração imperialistas se acentuavam. Quando a colonização se encontrava no seu apogeu, a resistência africana pareceu — momentaneamente — ter sido finalmente vencida, e parecia que a dominação política e económica do continente pelas potências estrangeiras estava definitivamente estabelecida. Mas isso era ilusório: a resistência africana reapareceu depois da Segunda Guerra Mundial, sob a forma de lutas de libertação nacional. Se algumas dessas lutas conseguiram triunfar sem o recurso às armas, outras só após anos de combate armado conheceram a vitória.

A independência política não trouxe o fim nem da opressão e da exploração económica, nem da ingerência estrangeira na vida política. O período neocolonialista começou logo que os monopólios capitalistas internacionais deram o seu apoio, durante a época colonial, à burguesia indígena, a fim de assegurar o seu controle da vida económica do continente.

O neocolonialismo empregou uma nova forma de violência contra os povos africanos, através de dominação política indirecta, pela burguesia indígena e pelos governos fantoches teleguiados pelo neocolonialismo; exploração económica directa através da extensão das operações de corporações poderosas; controle dos meios de comunicação, infiltração ideológica. E muitas outras maneiras insidiosas de penetração e implantação.

Nestas circunstâncias, compreende-se a importância da luta armada. Porque a libertação e a unificação da África não podem estar dependentes de um consentimento, de preceitos morais ou de uma conquista moral. É apenas recorrendo às armas que a África se poderá desembaraçar dos últimos vestígios de colonialismo, imperialismo e neocolonialismo e se libertará e unirá no socialismo. As massas africanas terão então o apoio e a assistência do mundo socialista.

A luta revolucionária africana não é uma luta isolada; não faz apenas parte integrante da revolução socialista mundial, mas também da revolução do Mundo Negro. Por toda a parte onde os descendentes africanos são oprimidos — como nos Estados Unidos e nas Antilhas(1) — rebentam lutas pela libertação. Porque nessas regiões do Mundo, onde o homem negro é colonizado, é simultaneamente vítima de uma discriminação de classe e de raça.

A África é o centro da revolução do Mundo Negro; enquanto não for unificada sob a direcção de um governo socialista, os homens negros do mundo inteiro não terão uma nacionalidade. É à volta da luta dos povos africanos pela libertação e unidade do continente que tomará forma uma autêntica cultura negro-africana. A África é um continente, um povo, uma nação. A teoria segundo a qual uma nação não tem razão de ser se não tiver um território comum, uma língua comum e uma cultura comum não conseguiu sobreviver ao teste do tempo, que define cientificamente a realidade objectiva. Porque, se de facto esses elementos podem constituir uma nação, a presença desses três elementos não é necessária à sua existência. Um território comum e uma língua comum podem ser suficientes para a formação de uma nação, assim como um território comum e uma cultura comum. Às vezes até um só destes elementos é suficiente. Um Estado pode existir sobre bases multinacionais; porque é a economia que reúne os indivíduos num mesmo território. É nesta base que os Africanos de hoje se reconhecem a si próprios potencialmente como uma nação, cujo domínio é todo o continente africano.

O objectivo principal dos revolucionários do Mundo Negro deve ser a libertação e a unificação totais da África sob a direcção de um governo pan-africano socialista. É um objectivo que satisfará as aspirações dos povos africanos de todo o Mundo. Fará ao mesmo tempo triunfar a revolução socialista internacional e contribuirá para encaminhar o Mundo para o comunismo para o qual tendem todas as sociedades segundo o princípio: de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades.